sábado, 16 de dezembro de 2017
terça-feira, 28 de novembro de 2017
Relato Experiência - Novembro
AS RELAÇÕES ENTRE A ZONA DE DESENVOLVIMENTO
IMINENTE E O BRINCAR EM VIGOTSKI
INTRODUÇÃO
Este
trabalho se constitui em um relato de experiência sobre os estudos e debates
realizados nos encontros do Projeto de Extensão LABBRINC (Laboratório de Jogos
e Brincadeiras Vigotski) da UEG Campus Goiânia ESEFFEGO realizado durante o ano
de 2017. As obras de Vigotski foram estudadas e discutidas nos encontros
quinzenais do LABBRINC, com a participação de alunos e professores da
Universidade Estadual de Goiás.
Vigotski descreve a importância do
imaginário na vida da criança. O autor destaca que o mundo infantil não é um
mundo à parte ou desconectado do real, mas que existe a partir do real, onde a
criança não apenas repete o vivido, mas cria e recria o próprio vivido.
Acredito que, se as necessidades não realizáveis imediatamente não se
desenvolvessem durante os anos escolares, não existiriam os brinquedos, uma vez
que eles parecem ser inventados justamente quando as crianças começam a
experimentar tendências irrealizáveis. (VIGOTSKI, 2003, p. 122)
Para Vigotski todo jogo possui
regras e também elementos do imaginário. As brincadeiras de faz-de-conta, por
exemplo, possuem regras que são apropriadas através da própria vida social, os
chamados códigos sociais são apropriados e internalizados pela criança em seu
cotidiano e no próprio ato de brincar. Os jogos regrados, como o jogo de
xadrez, que possui regras bastante rígidas, também possuem elementos do
imaginário em sua execução.
Pode-se ainda ir além, e propor que não existe brinquedo sem regras. A
situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de
comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais estabelecidas a
priori. A criança imagina-se como mãe e a boneca como criança e, dessa forma,
deve obedecer as regras do comportamento maternal. (VIGOTSKI, 2003, p.124 )
Segundo Vigotski, a criança na
chamada primeira infância age sempre em função do que vê, ou seja, suas ações
ficam presas ao campo ótico (visual). Porém, já na idade pré-escolar, ocorrre
uma reviravolta, pois a criança ao brincar consegue separar o campo ótico do
campo semântico, separando de fato o objeto da idéia. O autor cita o exemplo da
vassoura, que no brincar transforma-se em um cavalo para a criança, promovendo
a ruptura entre objeto e significado. Tal fato decorre do desenvolvimento das
funções simbólicas da criança, onde o brincar se torna elemento fundamental e
relevante neste processo.
METODOLOGIA
Através
de encontros quinzenais com professores e estudantes de Educação Física da UEG
Campus Goiânia ESEFFEGO, realizamos estudos sistematizados das obras de L.S.
Vigotski, relacionando suas
contribuições para a área da Educação Física, especialmente no que tange aos
conteúdos relacionados aos jogos e brincadeiras. Através do estudo detalhado e
sistematizado das obras de Vigotski, e também a análise minuciosa do contexto
histórico em que foram escritas tais obras, pôde-se compreender melhor o
pensamento e a própria linguagem deste importante escritor russo, trazendo para
os dias atuais as contribuições e o legado de suas teorias, principalmente para
o estudo da infância, dos jogos e da própria Educação Física Escolar. Todos os
sujeitos integrantes do projeto participaram de forma ativa através de
discussões, opiniões, debates e vivências sobre infância, atividades lúdicas e
suas relações com a Teoria Histórico Cultural de Vigotski. Os encontros foram
todos construídos de forma democrática e dialógica, onde todos os sujeitos envolvidos,
após a leitura prévia dos textos e livros de Vigotski, realizaram suas
intervenções nas discussões e deram as suas contribuições pertinentes. As
reuniões quinzenais foram realizadas no Campus Goiânia ESEFFEGO durante os meses de setembro, outubro e
novembro de 2017.
Através
de leituras, discussões, análises e apontamentos das obras de Vigotski
apresentadas previamente a cada encontro, todos os participantes se apropriam
dos conceitos e teorias de L.S. Vigotski e ainda relacionam as categorias e os
temas abordados com a área da Educação Física Escolar. Todos os relatos dos
encontros foram também divulgados quinzenalmente no blog do projeto (http://labbrincvigotski.blogspot.com.br/).
REFERENCIAL TEÓRICO
Por que a criança brinca? Esse é um
dos questionamentos que Vigotski faz ao leitor, explicando que a brincadeira
infantil surge a partir dos desejos irrealizáveis dentro do mundo adulto,
e que são satisfeitos através de uma ação imaginária
e ilusória, a brincadeira.
Para
resolver esta tensão, a criança em idade pré-escolar envolve-se num mundo
ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser realizados,
esse mundo é o que chamamos de brinquedo. (VIGOTSKI, 2003, p. 122)
Quando
a criança pré-escolar deseja andar de cavalo, mas sabe
da impossibilidade de realizar este seu
desejo, então, ela começa a brincar com a vassoura por
exemplo, e este objeto, de forma imaginária, se torna um cavalo.
Para Vigotski, a criança na
fase da primeira infância, não consegue diferenciar o campo
visual do campo semântico. Já a partir dos 03 anos (idade pré-escolar)
a criança passa então a distinguir o campo visual e
o semântico, ou seja, diferencia aquilo
que vê (objeto) de seu significado (sentido). "Isso
torna-se possível em razão da divergência,
que surge na idade pré-escolar, entre o campo visual e
o semântico." (VIGOTSKI, 2003, p. 128).
Para Vigotski o brincar infantil
não é um lugar separado do real, ao contrário, para este autor a
brincadeira e a própria situação real coincidem, sendo
que as próprias regras do brincar advêm das
regras do comportamento real, não sendo assim uma ação fantástica.
Para Vigotski
qualquer situação imaginária vivenciada pela criança possui
em si regras de comportamento, e também qualquer brincadeira com
regras contem também situações do imaginário. Logo,
para o autor a criança é livre, mas esta liberdade da criança é
apenas ilusória.
Vigotski ressalta ainda que durante a chamada
primeira infância, a força impulsionadora para
a criança está nos objetos, e estes acabam determinando o
seu próprio comportamento. Já na idade pré-escolar, isso de
fato não acontece mais, pois os objetos em si acabam perdendo
o seu poder impulsionador de outrora, já que
a criança começa a agir de forma diferente
em relação a tudo o que vê.
Devido ao fato de, por exemplo,
um pedaço de madeira começar a ter papel de boneca, um
cabo de vassoura tornar-se um cavalo, a ideia separar-se do objeto,
a ação, em conformidade com as regras, começa a determinar-se
pelas ideias e não pelo próprio objeto. (VIGOTSKI, 2008, p.129).
Segundo Vigotski, nessa guinada
na relação entre ideia/objeto, a brincadeira cumpre um papel
fundamental e proporciona a efetiva transição para isso. O objeto que
antes possuía predominância, passa então, a partir deste chamado momento
crítico, a ser um elemento subordinado ao sentido, e este por sua vez
passa a ter predominância sobre o próprio objeto. Numa relação matemática,
teríamos em um primeiro momento a razão OBJETO/SENTIDO representando a supremacia do campo visual
sobre o semântico na primeira infância (0-3 anos). A razão se inverte quando
surge o momento crítico, ou seja, quando o campo semântico (significados)
supera o campo visual, criando uma nova relação SENTIDO/OBJETO, onde a partir de agora a criança passa a
abstrair o próprio objeto, dando-lhe novos sentidos com base no imaginário. "No
brionquedo o significado torna-se o ponto central e os objetos são deslocados
de uma posição dominante para uma posição subordinada." (VIGOTSKI, 2003, p.129).
objeto
predominante
objeto subordinado
OBJETO
momento crítico
SENTIDO
SENTIDO
OBJETO
As intenções e ações lúdicas no
jogo possibilitam a criação da zona de desenvolvimento iminente, promovendo a
internalização do real e o desenvolvimento cognitivo. Dentro da contradição da
criança entre a impossibilidade do desejo e a necessidade imediata do querer
fazer, Vygotski então afirma: “Esta subordinação estrita às regras é quase
impossível na vida; no entanto torna-se possível no brinquedo. Assim o
brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança.” (VYGOTSKY,
2003, p.134).
Em
qualquer ação produtiva do nosso cotidiano, o significado e o sentido estão
sempre interligados de uma dada forma, ou seja, cada atitude tem um objetivo
ligado a um motivo, é o seu sentido; e cada operação por nós realizada possui
um dado conteúdo, ou seja, o seu significado. Porém no brincar da criança,
essas relações não são as mesmas, ocorrendo uma ruptura entre sentido e
significado. Para uma criança que brinca de “cavalinho”, a vassoura retém seu
significado, ou seja, continua sendo uma vassoura, porém ela adquire o sentido
de cavalo na imaginação infantil, assumindo seu sentido lúdico.
RESULTADOS
PARCIAIS
Dentro
do jogo, a criança também pode produzir muito além daquilo que conhece ou sabe.
Todos conhecemos o grande papel que nos jogos infantis desempenha a imitação,
com muita freqüência, estes jogos são apenas um eco do que as crianças viram e
escutaram dos adultos, não obstante estes elementos da sua experiência anterior
nunca se reproduzem no jogo de forma absolutamente igual e como aconteceu na
realidade. O jogo da criança não é uma recordação simples do vivido, mas sim a
transformação criadora das impressões para a formação de uma nova realidade que
responde às exigências e inclinações da própria criança.
Logo, o brincar da criança passa a
ser uma transformação criadora, ela também tem a possibilidade de criar, mas
cria a partir do que conhece e das oportunidades oferecidas, dentro de suas
próprias necessidades e preferências. Dentro do jogo resgata-se na criança sua
posição de sujeito histórico e social, pois ela cria, ela imagina, ela pode
participar ativamente do processo lúdico.
Tais processos criativos se dão
dentro da zona de desenvolvimento iminente. O jogo ou brincadeira, numa esfera
lúdica, ajuda a construir a subjetividade do sujeito, e neste ambiente
imaginativo-criativo e simbólico, permite-se alterações qualitativas das
estruturas mentais superiores, promovendo o desenvolvimento pleno.
CONCLUSÃO
Portanto, os jogos e brincadeiras
possuem papel fundamental para a formação da plasticidade cerebral através de
processos criativos, que irão transformar qualitativamente as funções
cerebrais, e não somente isso, mas o próprio brincar proporciona o surgimento
da zona de desenvolvimento iminente, capaz de promover o desenvolvimento das
funções psicológicas superiores da criança, caracterizando o brincar como
atividade principal da infância. Dentro do jogo resgata-se na criança sua
posição de sujeito de direitos, sujeito histórico e social, pois ela cria, ela
imagina, ela então pode participar ativamente do processo lúdico.
REFERÊNCIAS
VIGOTSKI, L.S. A Formação Social da Mente – o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo:
Martins Fontes, 2003.
Palavras-chave: Educação. Teoria Histórico Cultural. Vigotski.
Brincar
Relato Experiência - Outubro 2017
OS ESCRITOS DE VIGOTSKI NO
CONTEXTO DO SÉCULO XX: CRISE DAS CIÊNCIAS E A REVOLUÇÃO RUSSA.
INTRODUÇÃO
Este trabalho se constitui
em um relato de experiência sobre os estudos e debates realizados nos encontros
do Projeto de Extensão LABBRINC (Laboratório de Jogos e Brincadeiras Vigotski)
da UEG Campus Goiânia ESEFFEGO realizado durante o ano de 2017. As obras de
Vigotski foram estudadas e discutidas nos encontros quinzenais do LABBRINC, com
a participação de alunos e professores da Universidade Estadual de Goiás.
Entretanto, fez-se necessário primeiramente analisar de forma abrangente o
contexto do início do século XX, em que Vigotski viveu e escreveu todas as suas
obras, ou seja, um contexto de crises (ciências) e de revolução (revolução
russa).
Vigotski escreveu os seus
livros em um contexto de efervescência social total. Sua terra
natal, que outrora era classista, hierarquizada e anti-semita, governada
pelos Czares e por uma burguesia conservadora e tradicional, de repente se vê
totalmente transformada e gestada pela própria classe trabalhadora. Os
trabalhadores promovem a maior de todas as revoluções sociais da história
moderna e propõe a construção de uma nova sociedade sem classes. A Revolução
Russa eclode em 1917, e com ela profundas e radicais transformações sociais. A
proposta dos trabalhadores revolucionários era a construção de uma
nova sociedade igualitária, horizontal e autônoma, com sujeitos livres e
emancipados, o que de fato ocorreu somente nos primeiros meses da revolução com
os chamados “soviets”. Fazia-se necessário, ao mesmo tempo, a construção de uma
educação também revolucionária, ou seja, uma nova educação como instrumento
para auxiliar e promover a própria revolução em andamento, para a plena
emancipação e libertação dos trabalhadores. Vigotski, neste mesmo ano de 1917
forma-se em direito e volta para Gomel (sua cidade natal) , onde começa a
lecionar Literatura e História da Arte, e posteriormente funda um laboratório
de psicologia na escola de professores. Altamente engajado nesta luta revolucionária,
propõe um curso para a formação de professores dentro de uma proposta de
educação socialista. Daí surgem os escritos e a elaboração das aulas em forma
de cadernos e apostilas, que ao final deram origem às suas primeiras obras e
livros publicados.
METODOLOGIA
Através
de encontros quinzenais com professores e estudantes de Educação Física da UEG
Campus Goiânia ESEFFEGO, realizamos
estudos sistematizados das obras de L.S. Vigotski, relacionando suas contribuições para a área
da Educação Física, especialmente no que tange aos conteúdos relacionados aos
jogos e brincadeiras. Através do estudo detalhado e sistematizado das obras de
Vigotski, e também a análise minuciosa do contexto histórico em que foram escritas
tais obras, pôde-se compreender melhor o pensamento e a própria linguagem deste
importante escritor russo, trazendo para os dias atuais as contribuições e o
legado de suas teorias, principalmente para o estudo da infância, dos jogos e da
própria Educação Física Escolar. Todos os sujeitos integrantes do projeto participaram
de forma ativa através de discussões, opiniões, debates e vivências sobre
infância, atividades lúdicas e suas relações com a Teoria Histórico Cultural de
Vigotski. Os encontros foram todos construídos de forma democrática e dialógica,
onde todos os sujeitos envolvidos, após a leitura prévia dos textos e livros de
Vigotski, realizaram suas intervenções nas discussões e deram as suas
contribuições pertinentes. As reuniões quinzenais foram realizadas no Campus
Goiânia ESEFFEGO durante os meses de setembro,
outubro e novembro de 2017. Através de leituras, discussões, análises e apontamentos
das obras de Vigotski apresentadas previamente a cada encontro, todos os
participantes se apropriam dos conceitos e teorias de L.S. Vigotski e ainda relacionam
as categorias e os temas abordados com a area da Educação Física Escolar. Todos
os relatos dos encontros foram também divulgados quinzenalmente no blog do
projeto (http://labbrincvigotski.blogspot.com.br/).
REFERENCIAL TEÓRICO
A base desta nova ciência
pedagógica de Vigotski passa a ser o materialismo histórico e dialético de Karl
Marx. O marxismo passa então a ser o paradigma principal para todos os estudos
de Vigotski, onde a própria proposta de construção de uma nova psicologia seria
a psicologia alicerçada na teoria marxista.
A
psicologia anterior, que considerava a psique de forma isolada do
comportamento, não podia encontrar o terreno verdadeiro para uma ciência
aplicada. Ao contrário, ao se dedicar a ficções e abstrações, ela sempre se
divorciava da vida real e, por isso, era impotente para se tornar a fonte que
daria origem a uma psicologia pedagógica. Toda ciência surge das demandas
práticas e, em última instância, também se orienta para a prática. Marx dizia
que os filósofos só tinham interpretado o mundo, e que já estava na hora de
transformá-lo. Essa hora chega para todas as ciências. (VIGOTSKI, 2003, p.43)
Durantes os encontros do
Projeto de Extensão LABBRINC foi discutido também as questões ideológicas
envolvidas nas proibições das obras de Vigotski durante o regime stalinista que
veio a posteriore, ainda os erros e mutilações envolvidos nas traduções de seus
livros para as línguas do ocidente. Durante o período do regime stalinista, as
obras de Vigotski foram todas confiscadas e muitas destruídas em virtude do
decreto estatal de 4 de julho de 1936, que proibia a pedologia e também a
atuação dos pedólogos na antiga União Soviética. Logo, por questões políticas e
ideológicas as obras de Vigotski praticamente desaparecem da antiga União
Soviética, findando as proibições naquele país, somente durante a década de
1950. Suas obras foram proibidas por conta das perseguições políticas de Stalin,
e também por este considerar as citações e as referencias de autores ocidentais,
utilizadas por Vigotski, como parte da chamada ideologia burguesa. No entanto, as traduções de suas obras chegam
ao ocidente cerca de trinta anos depois desta data, destacando que o mundo
neste período citado encontrava-se dividido pela Guerra Fria (polarização do mundo entre capitalismo – EUA e
comunismo – URSS). Tal polarização do mundo fez com que as traduções para o
inglês (EUA) (das quais se originam as traduções para o português) fossem todas
distorcidas e mutiladas de forma escandalosa e proposital. Mais uma vez, os
escritos de Vigotski se tornaram alvo de proibição e de perseguição,
entretanto, agora de forma mais sutil e grosseira, ou seja, na forma de
distorções e de mutilações de seus textos originais. No Brasil a editora
Martins Fontes publica em 2001 a tradução do livro Psicologia Pedagógica feita
por Paulo Bezerra, e que veio acrescido erroneamente por dois
capítulos a mais, ou seja, absurdamente contendo 21 capítulos, sendo que a obra
original continha apenas 19 capítulos ao todo. Já a publicação da editora
Artmed (utilizada em nosso grupo de estudos) foi traduzida em português por
Claudia Schilling a partir da tradução realizada pelo argentino Guilhermo
Blanck, a partir do espanhol para o português, da primeira edição original
russa, e esta tradução porém, possui maior fidedignidade do que a primeira.
Discutimos também sobre a
grave crise em que a ciência se encontrava no início do século XX. As exigências
e imposições dos métodos das ciências naturais eram as referências que deveriam
legitimar as ciências humanas, inclusive a própria psicologia. As divergências
e dicotomias entre psicologia empírica (baseada nos métodos das ciências
naturais) e psicologia racional (cujos métodos eram baseados na especulação),
ou ainda com outras denominações como ciência da alma ou ciência sem alma,
continuavam e ampliavam a crise já instalada. Qual era afinal o verdadeiro o
objeto de estudo da psicologia? Como desvencilhar da influência metafísica ou
da religião? Seria possível estudar e conhecer a consciência humana de forma
objetiva? Vigotski propõe as bases da nova psicologia pautada no materialismo
histórico dialético, tomando como ponto de partida os "velhos" conceitos
da psicologia comportamentalista da época, e de forma dialética, dando-lhe
novos sentidos e significados a partir de sua negação (tese-antítese-síntese).
Criando uma nova psicologia marxista, que não desconsideraria os aspectos
biológicos, nem tão pouco negligenciaria os condicionantes sociais, econômicos,
políticos, psicológicos, biológicos e culturais.
O
primeiro passo distintivo da nova psicologia é seu materialismo, porque
examina toda a conduta do ser humano como uma série de movimentos e reações que
possui todas as propriedades de um ser material. Sua segunda característica é
a objetividade, pois coloca como condição indispensável para suas
pesquisas a exigência de que estas se baseiem na verificação objetiva do
material. A terceira característica é o seu método dialético, que reconhece que
os métodos psíquicos se desenvolvem em uma vinculação indestrutível com todos
os demais processos no organismo e que estão subordinados exatamente às mesmas
leis de desenvolvimento que regem tudo o que existe na natureza. E, finalmente
a última característica é a base biossocial, cujo significado já foi definido
(VIGOTSKI, 2003, p.40)
O autor relata em suas
primeiras obras sobre a grave crise em que passa a ciência (psicologia) durante
as primeiras décadas do século XX. Vigotski propõe uma abordagem dialética
sobre a atual crise, resgatando o "velho material" e procurando
compreender os fatos e leis anteriores sob a ótica de novos significados e
critérios, ou seja, dar novos significados aos conceitos e leituras da velha
psicologia, na tentativa de criar a "nova ciência", que segundo o
próprio autor, naquele momento afundava em uma grave crise de seus
próprios fundamentos, mas que também se encontrava em seu período de
estruturação inicial.
RESULTADOS PARCIAIS
Descobrimos em nossos
estudos que Vigotski enfatiza nos textos a compreensão do homem dentro de uma
perspectiva "biossocial". Segundo Vigotski a grave crise na ciência
[psicológica] de sua época refere-se à forte herança do pensamento primitivo e
religioso, ou seja, da perpetuação do dualismo corpo-mente, do espiritualismo
metafísico, que considerava a psique humana isolada e divorciada da vida real,
com suas abstrações e ficções, e no outro extremo a também forte influência
positivista da psicologia norte-americana, em referência à teoria
comportamentalista, que considerava o comportamento apenas como interações
mecânicas e lineares com o meio.
Vigotski refuta o
reducionismo e o biologicismo da psicologia de sua época ao explicar o
comportamento humano com base apenas em seu aspecto comportamental-biológico,
generalizando a teoria dos reflexos-condicionados para explicar todas as
funções psicológicas superiores, o que ele denomina de "Abra-te Sésamo!". Vigotski
relata ainda a "caricatura" que faz a ciência comportamentalista ao
relacionar de forma linear os aspectos motores ao desenvolvimento das funções
psicológicas.
Portanto,
a psicologia está se transformando em uma ciência biológica, pois estuda o
comportamento como uma das formas mais importantes de adaptação do organismo
vivo ao ambiente. Por isso, considera que o comportamento é o processo de
interação entre o organismo e o ambiente, e o princípio de utilidade biológica
do psiquismo passa a ser seu princípio explicativo. (VIGOTSKI, 2003, p.39)
Porém, Vigotski defende a
tese onde somente é possível compreender o comportamento humano em
sua totalidade quando se considera o desenvolvimento dentro do complexo
contexto de seu ambiente social, ou seja, o homem num contexto biossocial.
A nova psicologia, segundo
Vigotski, deve possuir características importantes, tais como: o materialismo - a
conduta humana deve ser observada a partir dos movimentos e reações de um ser
material (o homem como ser material inconcluso); a objetividade - verificação sistemática e objetiva da
realidade; a dialética -
os processos psíquicos se relacionam com todos os demais processos no organismo
(meio, cultura, biológico, etc.) e se inter-relacionam de forma
dinâmica e indestrutível; e por fim a base biossocial - onde o comportamento do ser humano deve ser
observado dentro do complexo contexto do seu ambiente social.
Refletimos sobre a resposta
de Vigotski ao propor uma nova psicologia alicerçada sobre os fundamentos do
marxismo. A crise que engessava
psicologia dentro do biologicismo do comportamentalismo da época é duramente
criticada e colocada em xeque por Vigotski. "[...] Entretanto, o comportamento do ser humano se
desenvolve no complexo contexto do ambiente social." (VIGOTSKI, 2003, p. 39).
CONCLUSÕES
Vigotski joga nova luz
sobre os conceitos da velha psicologia, numa tentativa de explicar e
compreender os fatos e leis anteriores, sobre um novo olhar, com uma nova
linguagem e ainda pautado em novos critérios, numa incansável tentativa de
superar a "grave crise de seus próprios
fundamentos".
Durante os encontros e
reuniões do LABBRINC, discutimos as características do novo método que Vigotski
utiliza para estudar e construir a nova psicologia, ou seja, a nova psicologia
pautada no materialismo histórico e dialético. As quatro características
citadas por Vigotski e que são os "traços distintivos da nova
psicologia" são: o Materialismo, a Objetividade, a Dialética e a
base Biossocial.
Vigotski destaca a crise
estrutural por que passava a ciência psicológica da época, mostrando que uma
psicologia pautada apenas em abstrações e ficções, e ainda separando a psique
humana de forma isolada do comportamento, não era capaz de originar uma
psicologia pedagógica, já que se era completamente divorciada da vida real.
Vigotski cita magistralmente
em sua obra a 11ª Tese de Marx sobre Feuerbach: "Os filósofos apenas interpretaram o
mundo de diferentes maneiras; agora é preciso transformá-lo” (Marx apud
Vigotski, 2003, p.43). Nesta passagem Marx realiza
a crítica à tradição do pensamento pautado numa visão idealista e separada da
realidade. Marx propõe a passagem do idealismo para o materialismo, da mera
interpretação para a transformação. Vigotski, frente à grande crise da
psicologia, também propõe a superação do idealismo contemplativo para uma
ciência de características biossociais pautadas no materialismo: "Toda a
ciência surge das demandas práticas e, em última instância, também se orienta
para a prática." (Vigotski, 2003, p. 43).
REFERÊNCIAS
VIGOTSKI, L.S. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre: Artmed,
2003.
Palavras-chave: Educação. Teoria Histórico Cultural. Vigotski.
quinta-feira, 5 de outubro de 2017
quarta-feira, 19 de abril de 2017
TEXTO PARA O PRÓXIMO ENCONTRO (DIA 25/04)
Prezados Participantes do LABBRINC:
Informamos que o texto a ser lido e discutido no próximo encontro LABBRINC (terça-feira às 18h50 sala PIBID campus Goiânia ESEFFEGO) será: (o mesmo encontra-se disponível no link abaixo ou na xerox da UEG - ESEFFEGO)
- LEONTIEV, A.N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. In: VIGOTSKI, L.S., LURIA, A. R., LEONTIEV, A.N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo: Editora Ícone/EDUSP, 1988.
DISPONÍVEL EM:
terça-feira, 18 de abril de 2017
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