sábado, 7 de novembro de 2020

A Segunda Onda da Covid-19: as escolas, as crianças e a educação física

    Escrito por: Geovana Costa e Silva (UFG)  e  Renato Coelho (UEG)


     Se observamos quando estamos na praia, a melhor diversão é a de poder brincar e nadar nas ondas. Seja adulto ou criança, todos gostam dessa brincadeira com as ondas do mar. Uma das partes preferidas consideradas pelos banhistas é poder “furar” as ondas e também pegar o famoso “jacarézinho”. Seja quando as ondas se aproximam e então você mergulha sob elas e sai do outro lado totalmente “ileso” ou deslizando até a areia com as águas te levando sobre uma prancha. Mas às vezes, a frequência das ondas é muito alta, ou seja, propagam várias ondas consecutivas em um pequeno intervalo de tempo, e não conseguimos desviar, elas nos acertam em cheio, e é então quando levamos o famoso “caldo”, quando nos desequilibramos e engolimos muita água sem estarmos com nenhuma sede. Seja a onda grande ou pequena, mergulhar por baixo delas é a mais pura diversão, basta apenas saber o “time” para se jogar, não pode ser muito cedo e nem muito tarde o furar a onda, caso contrário, a onda nos acerta em cheio. Mas as ondas mais perigosas são as denominadas “ondas de retorno”, que vem sempre em direção contrária às demais ondas, no sentido da praia para o mar. São aquelas ondas que chegam e em seguida refletem na praia, retornado para o mar novamente. Nesse retorno frenético, as ondas de retorno formam as fortes correntezas do mar que arrastam os banhistas. Nestes locais onde se formam as correntes de retorno não é aconselhado o nadar, a fim de se evitar afogamentos. 
    E já na nomenclatura das epidemias, o termo “onda” é bastante utilizado e serve para designar o intervalo de tempo entre dois ou mais picos distintos de contágios, ou o intervalo entre dois platôs da curva. Durante a pandemia da gripe espanhola em 1918, que perdurou por cerca de três (3) anos, houve regiões do mundo que experimentaram três (3) e até quatro (4) grandes ondas da epidemia. Quando se diz “nova onda” significa uma nova propagação de contágios após se experimentar um período de grande alta seguida de estabilização ou de queda de óbitos na pandemia.
    Quando se passa por um pico de contágios e de mortes, logo em seguida se estende um platô de estabilidade ou ainda uma queda vertiginosa de infectados, neste segundo caso, é quando se adquire uma falsa segurança e a sensação de que o pior já passou. É neste momento que baixamos a guarda e relaxamos nos cuidados e na prevenção. Porém, uma nova onda pode desfazer essa falsa sensação, podendo provocar uma nova crescente exponencial de contágios. E é exatamente isso o que assistimos atualmente na Europa e nos EUA. Após um verão quente, onde se flexibilizaram todas as regras de isolamento social, muitos saíram para as ruas, para o lazer, festas e fizeram viagens, aumentando consideravelmente os contágios. Se aproxima agora o rigoroso inverno no Hemisfério Norte e com ele uma provável alta acelerada de casos de covid-19, e a volta dos bloqueios, quarentenas e lockdowns, provando o fracasso das políticas públicas naqueles países em relação ao combate e mitigação de novos contágios, onde as testagens e rastreamentos não foram realizados de forma adequada. Medidas rigorosas de quarentena, toques de recolher e de lockdowns são necessárias para regiões ou países que de fato fracassaram na estruturação e na implementação de testagem em massa. Países que lograram êxito na política de testagem e rastreio não decretaram medidas rígidas de isolamento social, ao contrário, a sua população pôde desfrutar das relações sociais coletivas sem barreiras ou impedimentos, pois a testagem em massa permite saber com precisão onde está o vírus, e assim controlar eventuais surtos e evitar crescimento exponencial de contágios. 

                 Figura 01 – Gráfico com simulações da dinâmica de três (03) ondas epidêmicas 

      Atualmente a Europa se tornou novamente o epicentro da pandemia do novo coronavirus no mundo, já experimentando uma segunda onda de contágios em vários países, como na França, Alemanha, Reino Unido, Bélgica, Itália, Espanha, Portugal e República Tcheca. Tudo leva a crer que o fracasso das testagens em massa, as flexibilizações precoces, o cansaço e a fadiga dos europeus frente ao contínuo e rígido isolamento social experimentado durante o primeiro semestre de 2020, e ainda a tentadora chegada do verão que facilitou as aglomerações, e por fim, somado a tudo isso as novas mutações sofridas pelo vírus Sars-Cov-2 serviram de catalisadores para o surgimento desta nova e gigantesca segunda onda europeia. Os EUA também experimentam uma nova segunda onda com o aumento rápido e acelerado de novos casos de covid-19 após meses de estabilidade e declínio na curva de contágios.
      A segunda onda verificada atualmente nos países europeus apresenta uma dinâmica muito diferente da primeira onda. Observa-se que nesta segunda onda o número de contágios é muito superior ao da primeira, porém, o número de óbitos é, ao menos por enquanto, bem menor do que antes. Esse novo comportamento é explicado basicamente pelo exagerado número de subnotificações ocorridas no primeiro semestre (primeira onda), ou seja, os números oficiais de contágios pelo novo coronavirus publicizados naquele período, foram absurdamente inferiores aos números reais. No Brasil, por exemplo, pesquisas sorológicas realizadas em várias cidades do país pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL - EPICOVID) apontaram que os números verdadeiros de casos reais poderiam chegar a cerca de 9 vezes os números oficiais divulgados pelo governo, demonstrando o exagero nas subnotificações. Atualmente no mundo inteiro se faz mais testes genéticos (RT-PCR) do que no período da primeira onda, ocorrida no primeiro semestre, logo se tem essa aparente leitura de que os contágios são maiores e os óbitos muito menores do que na primeira onda. Porém, a tendência é com que os óbitos também aumentem numa escala muito grande, já que o aumento de óbitos sempre vem a reboque, ou seja, depois do aumento de contágios. Já é sabido que quando os contágios aumentam sem controle, o número de mortes também aumenta logo em seguida. Há que se ressaltar também a experiência adquirida pelas equipes médicas de todos os países no tratamento da covid-19, que ajuda a diminuir o quantitativo de óbitos, já que no início de 2020 a covid-19 era totalmente desconhecida pela ciência e pela classe médica e nem sequer haviam respiradores suficientes nos hospitais do mundo. Mas, infelizmente quando iniciar novamente o colapso das redes hospitalares dos países que experimentam a segunda onda, essa importante “expertise” no tratamento médico hospitalar não terá muita influência na diminuição do número de óbitos, já que num contexto de colapso nos hospitais, a maioria dos óbitos ocorrem nos domicílios ou nas filas de hospitais em busca por atendimento. 
    Observamos mais uma vez que milhares de pessoas serão mortas pela falta de atendimento médico hospitalar e que o sistema capitalista evidencia o seu total desprezo e desinteresse pela saúde e pela vida dos trabalhadores, onde a maioria dos percentuais de mortes pela covid-19 estão entre as classes mais baixas, de moradores excluídos das periferias, de trabalhadores precarizados e idosos.
    No Brasil, devemos ressaltar que, devido à sua dimensão continental, existem várias epidemias da covid-19 ocorrendo ao mesmo tempo em nosso território, com amplitudes, frequências, letalidade e velocidades distintas. Cada Estado da Federação apresenta uma curva pandêmica diferente das demais. Vemos que as primeiras regiões a atingir o pico da primeira onda da pandemia foram as regiões Norte, Nordeste e Sudeste, e somente a partir de julho e agosto as regiões Sul e Centro-Oeste alcançaram o pico do gráfico, onde se registraram as maiores altas no período. Logo, se torna muito mais fácil analisar o surgimento de novas ondas da pandemia por Estados, e não de forma nacional. E é exatamente isso o que se observa hoje, o surgimento de uma segunda onda de casos no estado do Amazonas e em Santa Catarina, enquanto a curva nacional apresenta queda no número de óbitos e de contágios atualmente. Enquanto alguns Estados da federação apresentam queda ou estabilidade nos contágios, outros Estados apresentam aumento vertiginoso.
   No Brasil temos então várias ondas pandêmicas fluindo ao mesmo tempo. Como se tem várias epidemias distintas em cada região ou estado da nação, e sem nenhuma gestão nacional e centralizada, então teremos localidades que permanecerão numa primeira onda, enquanto outras experimentam ou irão experimentar a segunda ou a até a terceira onda da pandemia. Seria de fato como no exemplo das ondas do mar que ilustramos no início deste texto, no Brasil as curvas pandêmicas se comportam como ondas bravias em um mar revolto, que arrastam todos que estiverem no seu caminho. As segundas e terceiras ondas são provocadas pelo fracasso nas políticas de mitigação de contágios, onde aquelas pessoas que outrora estavam protegidas em isolamento social, passam então a contrair o vírus.
   Numa escala nacional, talvez venhamos a assistir uma sobreposição de ondas de contágios, onde experimentaremos aceleração nos contágios e óbitos que convergirá para uma segunda onda, já que houve flexibilização geral de todas as atividades econômicas no país e ao mesmo tempo não houve e nem existe nenhuma política pública nacional de mitigação de contágios. A total negligência do governo federal e dos governos estaduais na construção de políticas de testagem em massa e em rastreamento de contatos tem levado a população a viver a vida como se não houvesse pandemia, submetidos à própria sorte, na roleta russa da covid-19 e do falso normal. O descrédito da população com relação aos governos (municipal, estadual e federal) tem levado muitos ao não engajamento em novas propostas relacionadas a qualquer implementação de regras de isolamento social, demonstrando assim uma total desesperança e desmotivação de uma grande parte da população referente a este tema. O próprio Estado é o responsável pelo surgimento da pandemia com a destruição da natureza e exploração do trabalho, e o próprio Estado é quem não disponibiliza tratamento de saúde adequado ao trabalhador, numa tentativa inútil de atacar apenas os efeitos e não a causa do problema, cuja consequência são as mais de 160 mil vítimas da covid-19 até o momento no Brasil.
   Uma segunda onda no atual contexto brasileiro poderá provocar maiores estragos do que a primeira, pois uma grande parcela da população que durante a primeira onda estava em isolamento social, hoje estão nas ruas e trabalhando. E o segundo ponto é que o estresse e o cansaço provocado nas pessoas durante o isolamento social no primeiro semestre deixarão todas essas pessoas menos propensas a uma adesão às novas propostas de regras de isolamento social, tal qual ocorre hoje no Hemisfério Norte, onde a população está indo às ruas protestar contra novos lockdowns e quarentenas obrigatórias. Uma segunda onda irá pegar todos de surpresa, num momento crítico onde a maioria acaba por “baixar a guarda” ao se expor mais ao vírus.
   É interessante observarmos que todos os países europeus que hoje experimentam uma segunda onda, além de terem flexibilizado praticamente quase todas as atividades econômicas, também realizaram a reabertura das escolas durante a pandemia. No estado do Amazonas também houve uma abertura precoce das escolas ainda no mês de agosto deste ano, o que contribuiu sem sombra de dúvidas para o surgimento da segunda onda observada atualmente naquela região importante do país. Temos então as provas e evidências de que a reabertura precoce de creches, escolas e universidades numa pandemia, potencializam o crescimento dos contágios. Basta conversar com um professor ou funcionário administrativo de qualquer escola, creche ou universidade e perguntar sobre a dinâmica de funcionamento destas instituições, e saber o quanto o retorno às aulas presenciais, é capaz de impactar na mobilidade e na dinâmica de um bairro ou de uma cidade inteira. Até mesmo o comércio próximo das escolas, veem aumentar a sua clientela com os portões das escolas abertos. O trânsito se torna mais intenso nas zonas urbanas quando da abertura das escolas. E dentro das escolas, os milhares de contatos entre as crianças, e entre os professores, pais de alunos e de funcionários fazem deste ambiente escolar um ambiente singular de aglomerações e de contágios. Num shopping center ou numa avenida comercial é razoavelmente possível controlar a velocidade do fluxo de clientes nas lojas, porém numa escola essa é uma tarefa quase impossível, basta perguntar a quem já trabalhou ou trabalha em escola. Escola é ambiente de aglomeração, não existe escola sem aglomeração de pessoas. Deve-se somar a tudo isso o alto grau de precarização em que se encontram as escolas públicas no Brasil, o que dificulta muitíssimo na construção de ações de prevenção contra a covid-19, haja visto o grande número de escolas públicas brasileiras sem nenhuma estrutura básica de controle sanitário, como a ausência de sabão e água encanada nos banheiros e o elevado número de salas de aula sem janelas.

O que fazer então com as crianças fora das escolas? 

                   Figura 02 – Algoritmo para a volta das crianças às aulas presenciais na escola 

   Conforme tudo visto e mencionado é preciso então, partindo da ideia do algoritmo acima, propor uma nova visão dentro do nosso cotidiano para com as nossas crianças, buscando a relação entre criar alternativas, entretenimentos, educação, lazer, criatividade e ludicidade. Com isso, a fim de minimizar os danos causados por esse cenário tanto para as crianças como para uma sociedade como um todo, pois todos fomos “lesionados” ou afetados de alguma forma como consequência da pandemia, seja através de, ansiedades, questionamentos, transtornos, solidão, sintomas físicos e mentais de uma forma geral. Partindo disso, buscamos desenvolver e construir fatores de proteção para nossas crianças principalmente nesse ambiente. É como se imaginarmos na ideia de um dia levarmos nossos filhos para a praia, nos preparamos antes, com avisos prévios, cuidados, os maiores acabam cuidando dos menores pois sabem lidar melhor com as ondas e ajudam os pequenos a se preparem e se protegerem. As ondas da vida são assim, vem e vão, por algumas vezes calmaria, já outras, avassaladoras, por isso o cuidado e preparação servirão de grande aporte em meio a esses momentos. Durante o crescimento da pandemia (1) na linha amarela no gráfico as crianças ficam dentro de casas, mantendo o isolamento social, desenvolvendo atividades lúdicas e criativas na medida do possível. Após o pico de sua evolução, já na fase descendente da faixa de contágio (2) os pais já podem levar seus filhos aos parquinhos, a brincar na rua seguindo as regras de cuidado e do distanciamento social e procurar manter essa atuação sem que haja o descuido e relaxamento com as medidas de proteção até alcançarmos a fase (3) onde há a chegada de uma vacina podendo assim retornar as atividades escolares e demais outras que estavam restringidas devido ao caos chamado Covid-19.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

A Educação Física na Montanha Russa da Covid-19

Gráfico 01 - Média Móvel de Mortes em Goiás

 

 (Escrito por Renato Coelho)

Existe uma antiga lenda sobre a origem do jogo de xadrez, chamada de “a lenda de Sissa”. Reza a lenda que um sábio chamado Sissa, após criar o jogo de xadrez e ensinar o rei hindu a jogar este jogo de tabuleiro, fez um desafio ao rei como resposta à proposta que o mesmo lhe fizera, em lhe dar qualquer coisa que pedisse. Então Sissa lhe pediu que colocasse um pequeno grão de trigo no primeiro quadrado do tabuleiro, e em seguida o dobro de sementes de trigo no segundo quadrado, e após isso, o dobro de sementes de trigo no terceiro, e novamente no quarto quadrado, o dobro de sementes colocado antes, e assim sucessivamente até que se chegasse ao 64º e último quadrado do tabuleiro de xadrez. O rei achou o pedido muito singelo e zombou de Sissa, solicitando que os seus servos fizessem os cálculos e então entregassem as sementes à Sissa. Entretanto, após os servos reais consultarem os matemáticos da corte, ficaram totalmente espantados e perplexos, e foram correndo procurar o rei. Ao chegarem diante do rei, mostraram os números à sua alteza e explicaram que nem todo o ouro e nem todos os tesouros reais seriam suficientes para pagar o pedido de Sissa.

Na verdade, o pedido de Sissa obedecia a uma função exponencial, também conhecida como progressão geométrica, onde a quantidade de trigo sempre dobra de um quadrado para o outro. No primeiro quadrado: uma semente de trigo, no 2º quadrado: 2 sementes, no 3º deveria ser colocado 4 sementes, no 4º mais 8 sementes, no 5º a quantidade de 16 sementes e assim sucessivamente até o 64º quadrado final do tabuleiro. É uma progressão geométrica de ordem 2 (R=2), ou seja, ela dobra a cada nova contagem. E utilizando a fórmula matemática para uma progressão geométrica (An = ao x Rn-1) chegamos à quantidade de sementes de trigo suficiente para preencher todo o tabuleiro de xadrez e pagar Sissa: 18.446.744.073.709.551.615 sementes de trigo. Ou seja, a quantia de sementes era impagável e impossível de ser cultivada, pois a superfície inteira do planeta Terra não seria suficiente para o plantio, e ainda, nem se quer haveria local suficiente no planeta para armazenar e guardar toda a quantidade final de sementes.

Vemos através da lenda de Sissa o poder de crescimento das funções exponenciais, mas não precisamos ser exímios matemáticos ou doutores em epidemiologia para compreender o crescimento vertiginoso de contágios e de óbitos provocados pela covid-19 em Goiás, pois somente a matemática ou a biologia não são suficientes para explicarem estes tristes números. As transmissões do novo coronavirus seguem a matemática de Sissa, ou seja, as funções exponencias e foi por isso que em apenas três meses a covid-19 atingiu a todos os países do planeta Terra. A matemática de crescimento da doença respiratória Covid-19 segue a mesma lógica dos grãos de trigo no tabuleiro de xadrez, porém, a velocidade das transmissões depende de várias variáveis, como veremos a seguir, podendo ser assim aceleradas ou freadas.

Segundo os dados oficiais, a transmissão comunitária do vírus Sars-Cov-2 em Goiás se iniciou em março de 2020 e a primeira morte pela covid-19 se deu no dia 28 de março na região do entorno de Brasília. No entanto, ainda no dia 9 de fevereiro, o Estado de Goiás teve uma importante experiência com relação à pandemia, quando a Base Aérea de Anápolis serviu de local de quarentena para 34 brasileiros que foram repatriados de Wuhan na China, onde permaneceram por 14 dias em Anápolis e fornecendo uma aprendizagem relevante sobre o comportamento e as precauções com relação ao vírus transmissor da covid-19. Além desta oportunidade ímpar de estudar e conhecer melhor o vírus com a primeira quarentena de covid-19 no Brasil realizada na cidade de Anápolis, o Estado de Goiás, assim como todos os demais Estados da região Centro Oeste e Sul do país, foram as últimas regiões do Brasil a serem impactadas fortemente pela pandemia do novo coronavirus, o que forneceu mais tempo para uma melhor preparação e implementação de políticas públicas de mitigação de contágios e para tratamento de doentes, porém, não foi nada disso o que se viu de fato. E em virtude das questões geopolíticas do Estado de Goiás, que fica numa região mais central, interiorana e menos populosa do país, com aeroportos de baixo fluxo aéreo, houve realmente um certo retardo na chegada da crise provocada pela pandemia em relação ao restante do país (regiões sudeste, norte e nordeste). Todos esses elementos juntos, teoricamente falando, deveriam ser fatores positivos no combate e mitigação de contágios do novo coronavirus em Goiás, pois permitiu maior tempo hábil para os gestores e políticos planejarem melhor as ações no combate à pandemia e consequentemente para a  diminuição de vítimas fatais. Entretanto, nada disso aconteceu. Goiás chega hoje a um triste e absurdo número de mortes, cujo quantitativo atual já ultrapassa o valor de 5.444 óbitos de pessoas vítimas da covid-19, e alcançando também uma taxa de letalidade de 2,26%. A taxa de letalidade de 2,26% é considerada altíssima, significa que a cada 100 pessoas contaminadas, mais de duas delas vem a óbito. Segundo o jornal “O Popular” de 28 de setembro de 2020, somente até o mês de agosto, 136 pessoas morreram na fila por UTI, por falta de leitos em Goiás. São números assustadores e demonstram mais uma vez que a letalidade poderia ser muito mais baixa, caso as pessoas tivessem de fato atendimento médico-hospitalar adequado e ainda houvesse existido uma verdadeira política de mitigação de contágios em Goiás com testagem em massa, rastreio de contatos e isolamento das vítimas.

No gráfico 01 com a curva exponencial acima, podemos acompanhar a cronologia das transmissões da Covid-19 e o número diário de óbitos em Goiás. Vemos que as transmissões comunitárias foram registradas oficialmente após o carnaval na primeira quinzena de março e a primeira morte registrada foi em 26 de março, provando que o vírus já estava circulando em Goiás ainda em março ou até mesmo antes desta data. Já no dia 13 de março o governo de Goiás divulga o Decreto N. 9633 que impõe a situação de Emergência em Saúde Pública, promovendo a quarentena em Goiás com proibição de funcionamento de várias atividades econômicas no Estado, inclusive bares, cinemas, restaurantes, academias, escolas e universidades. O isolamento social dura cerca de duas semanas, porém sem a realização de testagem em massa da população e sem o rastreamento dos contatos. Torna-se evidente que não se pode controlar a pandemia somente com quarentena, isolamento social ou lockdown, em paralelo e de forma contínua ao isolamento social, é também necessário a realização da testagem em massa com rastreio de contatos e atendimento hospitalar aos infectados. Porém, apesar do isolamento ter sido realizado no momento certo, no início da transmissão comunitária, não houve testagem em massa para mitigação dos contágios e a consequência todos nós já conhecemos, houve apenas o retardamento do pico de transmissões, onde a crise de contágios foi apenas postergada por mais algumas semanas, “empurrando” o pico de contágios para a segunda semana de agosto, com colapso na rede hospitalar e 100% de ocupação de UTI’s nesse período. E ainda hoje, no final de outubro de 2020, não existe em Goiás uma política pública robusta e eficaz de testagem em massa, ficando os números de testes muito abaixo do recomendado, daí o verdadeiro motivo do número altíssimo de subnotificações, e o vírus ainda permanecer fora de controle em Goiás e também no Brasil.

Ainda conforme o Gráfico 01, o governo de Goiás, por pressão dos setores empresariais e financeiros inicia uma agenda de flexibilizações ainda no mês de abril com funcionamento de feiras livres e até de igrejas. Naquele momento já eram computados cerca de 40 óbitos em Goiás (ver Gráfico 01). Observamos que as flexibilizações, conforme o gráfico acima demonstra, iniciam no momento de aceleração dos contágios e de mortes em Goiás. Quando o número de contágios aumenta, o aumento do número de óbitos sempre vem à reboque. Ou seja, o governo promove isolamento social obrigatório somente no início, quando ocorrem as transmissões comunitárias e passa contraditoriamente a flexibilizar continuamente a abertura da economia, quando a curva está no seu grau de maior ascendência e indo rumo ao pico de contágios. Tudo foi realizado de forma errônea e irresponsável pelos gestores que apenas atenderam ao lobby e a pressão de empresários e políticos, que em sintonia com o governo Federal, colocam sempre o lucro acima da vida humana. O correto era a realização maciça de testagem genética (RT-PCR) e a manutenção do isolamento social com apoio financeiro  irrestrito aos trabalhadores e também aos pequenos e médios empresários, a fim de se ter evitado a tragédia de 5.444 mortos em Goiás até o dia de hoje (números subnotificados). Essas recomendações não são algo novo, foram adotadas por países que atualmente conseguiram controlar a pandemia, como o Uruguai, a Coréia do Sul e outros.

Já na primeira quinzena de julho, quando a curva toma a chamada forma de “foguete”, apresentando uma inclinação ascendente quase vertical, o governo de Goiás e a prefeitura de Goiânia autorizam a abertura de bares, restaurantes, academias de ginástica, escolas de natação o e também o comércio da região da rua 44 na capital. Nesse momento já eram computados 740 mortes pela covid-19 no Estado de Goiás. Essa abertura se deu na fase mais crítica da pandemia em Goiás, quando na verdade, seguindo os protocolos científicos, deveria ser endurecida as regras de isolamento social e não a sua flexibilização tal qual aconteceu. O que assistimos em julho foram igrejas funcionando, alunos em academias, bares e restaurantes abertos e aulas de natação durante o pico da pandemia em Goiás. O pico é a parte da curva onde ocorre o ponto máximo de mortes diárias e de contágios. Neste ponto ocorre a inflexão da curva, onde em seguida, ela passa a decrescer ou a se manter num platô. E o platô é quando a curva se mantém numa média constante de contágios ou de óbitos. Segundo o Gráfico 01, o pico ocorre justamente na última semana de agosto, período no qual bares, restaurantes, escolas de natação e as academias de ginástica já permaneciam abertas desde a semana anterior ao pico. O que se assistiu depois foi uma aceleração de contágios e de mortes com surtos em várias regiões e a continuidade do descontrole total da pandemia em Goiás. Ainda observando o Gráfico 01, nota-se também que após o pico alcançado com média maior do que 60 mortes diárias, se estabelece um platô com média móvel de mortes altíssima e que perdurou até a segunda semana de outubro e somente após essa data a curva começa a desacelerar e sair do alto platô. O platô iniciou após o pico, ou seja, na última semana de agosto e se estendeu até a segunda semana de outubro, durando cerca de dois (2) meses, provocando um total de aproximadamente  2.441 mortos (5.401 – 2.960) somente no período de dois meses de manutenção do platô.

Devemos ressaltar ainda, que após o decreto de quarentena assinado em março (Decreto n. 9633), não houve nenhuma política pública eficaz e robusta no sentido de realizar a mitigação dos contágios pelo vírus Sars-Cov-2 em Goiás. As únicas variáveis que guiavam os gestores públicos eram o índice de ocupação de UTI’s e também o número de mortos informados pelos cartórios. Sendo que essa última variável, o número diário de mortos possui uma margem de erro próxima de 40%, que prova também ser subnotificada, assim como o número de contágios.Os dados oficiais na realidade mostram a pandemia no passado e não em tempo real, devido à subnotificação de casos e de mortes, os gráficos e os números que observamos hoje, podem ser descrições e imagens da pandemia há 30 dias atrás ou mais.

Consequentemente, o que assistimos após essa quarentena desorganizada e sem nenhum planejamento foi a própria natureza guiando a pandemia no Estado de Goiás. A natureza possui mecanismos para criação de pandemias como sistema de auto-proteção e para a preservação de espécies ameaçadas, mas a natureza também possui mecanismos inteligentes para por fim às pandemias criadas pelo homem ou por ela própria. O chamado clusters de mortos ocorre quando o vírus atinge um grau máximo de contágios, contaminando um percentual grande de uma população, e então, devido a esse contágio maciço, o próprio vírus acaba ficando sem muitas opções para novos contágios, pois grande parte ou quase toda a população já foi contaminada ou foi a óbito. Neste momento de altos índices de contaminações, surgem os chamados “clusters”, que são na verdade grandes barreiras ou “paredes” formadas somente por indivíduos contaminados ou de mortos, que por si só, acabam freando a velocidade de propagação do vírus e amortecendo a curva da pandemia, tal qual observamos no Gráfico 01 atualmente no mês de outubro de 2020. A partir de março não foram realizadas políticas robustas e eficazes de controle da pandemia, vemos a partir de então, a um crescimento acelerado de contágios, com o pico em agosto e em seguida uma desaceleração em outubro. Neste período de platô a natureza começava a criar o seu “clusters” de pessoas contaminadas e de mortos, esse processo durou cerca de dois meses, até o momento em que os números alcançaram níveis tão absurdamente elevados de mortos e de contaminados, que o vírus “joga a toalha”, não tendo mais muitas opções para novas contaminações, e passa a ter uma velocidade de contágio menor e menos acelerada. Porém, a opção da escolha deliberada e irracional pelo agir da própria natureza na pandemia, é considerada eticamente errada, desumana e também imoral, pois permite que o grande número de mortos e de contaminados se torne uma barreira natural a fim de frear e deter a pandemia. Porém, é exatamente isso o que estamos assistindo em Goiás e no Brasil como um todo, onde nenhum estado da federação conseguiu alcançar o tão almejado “achatamento da curva” pandêmica. Ainda temos que ressaltar o papel importante das mutações genéticas do vírus, e as constantes reinfecções, que torna impossível atingir a chamada imunidade de grupo ou de rebanho, que só ocorre com a vacinação em massa da população e não através do simples contágio.

A segunda onda de propagação do vírus Sars-Cov-2 já é uma realidade atual na Europa e nos EUA, provavelmente o Brasil também deverá enfrentar em breve uma segunda onda, já que não temos previsões sobre a realização de imunização por vacinas, que ainda estão em fase de testes. Pelo que tudo indica, os mesmos erros praticados na primeira onda se repetirão novamente. Ondas que refletem a construção de um modelo de mundo insano, onde o capital insaciável sempre prevalece sobre a natureza e também sobre a vida humana.

 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Os Superspreaders: a Educação Física em Xeque




(Escrito por Renato Coelho)

Atualmente, durante a  pandemia do novo coronavirus neste mês de outubro de 2020, o mundo vem batendo  a cada dia novos recordes de contágios, principalmente pelos novos surtos na Europa com o surgimento iminente de uma forte segunda onda e o crescimento vertiginoso de casos na Índia. São vários os fatores envolvidos na mecânica de contágios através do novo coronavirus, que vão desde  a amplitude da mobilidade humana, o distanciamento social, a frequência de aglomerações de pessoas, a utilização de máscaras, a higienização das mãos, a testagem em massa, o isolamento social, a densidade demográfica, as questões sócio-econômicas, o tratamento hospitalar dos doentes e também questões culturais que envolvem os contatos e interações interpessoais. Todos estes fatores  estão correlacionados ao porcentual de contágios e de óbitos numa determinada região. Essas variáveis influenciam diretamente na velocidade de contágios e na dispersão da pandemia no mundo. Entretanto, pesquisas realizadas pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (https://www.lshtm.ac.uk/) demonstram que cerca de 80% dos contágios da Covid-19 são transmitidos por cerca de apenas 10% dos contaminados. Por trás destes números se escondem  os chamados “Superspreaders”, palavra que traduzida para o português significa “Superespalhadores”, ou seja, existem certas pessoas e determinados ambientes que juntos são capazes de transmitirem o vírus numa escala muito superior à média regional ou nacional de uma dada região ou país. O surgimento dos  “Superspreaders”  está relacionado a questões biológicas do indivíduo (carga viral que ele carrega) e também a questões geográficas e culturais. Um “Superspreader” não é uma pessoa, mas sim um conjunto de situações ou evento social, que envolvem muitas pessoas, ambientes específicos e o vírus Sars-Cov-2. A combinação de certos locais, as aglomerações de pessoas e o vírus da covid-19, são os ingredientes mais que suficientes para o surgimento dos “Superspreaders”, ou seja, os ambientes super espalhadores do novo coronavirus.

Na história recente da pandemia do novo coronavirus, existem vários registros e confirmações de eventos “Superspreaders”. Um dos primeiros casos noticiados e documentados de ambientes Superespalhadores ocorreu na cidade de Washington nos EUA, onde 61 membros de um coral se reuniram sem as medidas preventivas contra a covid-19, entretanto, um dos integrantes do coral presente no encontro estava contaminado pelo novo coronavirus, porém era assintomático. Após a realização deste evento, 53 pessoas testaram positivas para a covid-19, 3 pessoas foram hospitalizadas e 2 morreram.

Outro exemplo de eventos superespalhadores ocorreu em uma igreja em Seul, capital da Coréia do Sul, onde uma mulher, membra da igreja e que apresentava sintomas leves da covid-19, e que por isso pensava apenas ser efeitos de um resfriado, frequentou uma reunião de oração onde todos os participantes tiraram as máscaras para a realização da liturgia da oração, e ao final daquela reunião, segundo dados do governo coreano, 43 fiéis da igreja foram contaminados por apenas uma única pessoa.

Vários outros casos ocorridos também no Brasil podem ser relatados como exemplo de eventos superespalhadores, como os jogadores e a comissão técnica do Flamengo, que se contaminaram em viagem ao Equador durante a realização do torneio de futebol Libertadores da América. Outro exemplo de ambiente superespalhador foi a posse do presidente do Supremo Tribunal Federal em setembro de 2020, onde a maioria dos convidados e membros da corte foram contaminados, mesmo seguindo protocolos rígidos de segurança contra a covid-19. Neste caso se destaca a aglomeração de pessoas num ambiente fechado com ar condicionado. A cerimônia durou mais de três (3) horas e as pessoas ficaram confinadas num lugar fechado e sem ventilação natural, e mesmo com distanciamento e o uso de máscaras, houve um grande número de contágios entre os participantes devido ao efeito aerossol do vírus Sars_Cov-2, permitindo o contágio pelo ar e tornando o salão do STF num espaço superespalhador. Outro exemplo superespalhador conhecido mundialmente foi a cerimônia na Casa Branca em setembro que contaminou o presidente e candidato à reeleição dos EUA, Donald Trump. Já neste caso não houve a utilização de máscaras pelos participantes e nem tão pouco foi respeitado o distanciamento social. Mesmo sendo um evento realizado ao ar livre, se transformou assim num superespalhador da covid-19.

Logo vemos que os chamados “Superspreaders” são eventos sociais capazes de potencializar a transmissão do vírus Sars-Cov-2. Se por exemplo, numa cidade o índice de transmissão (Ro) é alto e igual a 2 (Ro=2), significa que uma pessoa contaminada é capaz de transmitir o vírus para duas (2) outras pessoas. Mas no caso de um superespalhador, ele pode transmitir o vírus para 10, 50 ou 100 pessoas dependendo do contexto e não somente do coeficiente de transmissão Ro.

Qualquer ambiente onde ocorra aglomerações e não se respeitem as regras de distanciamento, o uso de máscaras e a lavagem adequada das mãos pode se transformar em um potencial evento superespalhador. Inclusive ambientes fechados e pouco arejados, mesmo com as prevenções adequadas, podem também se transformarem em superespalhadores, como no exemplo da cerimônia de posse no STF em Brasília, onde vários convidados da cúpula do judiciário, que mesmo usando máscaras e seguindo os protocolos rígidos de segurança adotados naquele tribunal, se contaminaram, transformando o salão do STF num espaço superespalhador.

Não existe um ambiente em si mesmo que seja superespalhador, esses ambientes são criados pelo contexto da aglomeração, e que combinando com várias variáveis, bastando apenas a presença de um única pessoa positiva para a covid-19, faz então surgir o superespalhador e consequentemente potencializando os contágios.

As escolas podem facilmente se transformarem em ambientes superespalhadores, pois elas tem todos os ingredientes necessários para a formação dos “superspreaders”. Por isso não se recomenda o retorno das aulas presenciais sem a existência de uma vacinação eficaz, devendo-se manter o ensino remoto com todas as suas limitações, a fim de se evitar novos contágios e mortes.

As academias de ginástica também podem se transformar em ambientes superespalhadores, pois são na sua grande maioria locais fechados com ar condicionado, com intensas aglomerações de alunos e constantes contatos (toques) manuais em aparelhos. Ressalta-se ainda a realização de uma intensa e explosiva respiração pelos praticantes de exercícios nas academias, também a alta sudorese, fatores que conjugados se tornam facilitadores de transmissões, levando risco aos professores e alunos. 

Mas que se observa atualmente, após as flexibilizações da quarentena, é que em várias academias alunos usam máscaras de forma incorreta (talvez devido ao grande calor e ao clima muito seco dos últimos meses) e ocorrem aglomerações entre alunos nos intervalos de aulas. Ou seja, muitos dos protocolos planejados para as academias em sua maioria não são colocados em prática durante as aulas ou mesmo não funcionam para o cotidiano de funcionamento das academias. E mais uma vez, tanto no ambiente escolar quanto para as academias, a educação física está sendo colocada em xeque, não pelo vírus Sars-Cov-2, mas pelo mercado insaciável do capital, que exclui os trabalhadores do direito à saúde e impõe o desemprego e a fome àqueles que não tem opção em escolher entre a vida ou o a super exploração do trabalho alienado.

 

sábado, 10 de outubro de 2020

Natação na Pandemia

 




(Texto Escrito por Juliana Alves Santos Sousa*, Thailine Cristine da Cruz Tomaz* e Gabryella Alves dos Santos Dias *)

* Discentes do 8º período do curso de licenciatura em Educação Física da UEG (Unidade ESEFFEGO - Goiânia)

Em tempos de pandemia, reinventar os aspectos metodológicos de ensino, se torna uma necessidade no âmbito acadêmico. Em meio ao caos e as incertezas que contemplam a sociedade, trilhar um caminho educacional que vise diminuir os impactos de uma educação a distância, e promova ainda, a sua instauração de forma ampla, é um grande desafio.

É notório que a educação não pode se estagnar no tempo, através desta perspectiva a solução encontrada pelas unidades de ensino, foi a utilização de plataformas online e digitais, que possibilitam ao aluno, ter acesso aos conteúdos ministrados sem a necessidade de ir a estes espaços. As universidades, tem se reinventado, e adotado estratégias de ensino a distância.

Contudo, e analisando a realidade dos acadêmicos, seria essa a melhor estratégia? A qualidade oferecida por este mecanismo virtual é capaz de sanar as dúvidas, e promover ao aluno um aprendizado sistêmico, que possa contribuir para sua prática social? Em face do curso de Educação Física e na perspectiva das disciplinas práticas do mesmo, como por exemplo, a disciplina de natação, essa ferramenta de ensino é passível de constatação do conhecimento?

Estes e outros diversos questionamentos, tem sido referido ao se relatar os níveis de aprendizagem através do ensino EAD.

Diante desses novos desafios em que os professores e alunos estão expostos, torna-se necessário a busca por soluções práticas para que, do mesmo modo que o ensino de forma presencial é sólido e eficaz o ensino remoto obtenha ou, pelo menos tente obter o mesmo êxito. O ensino da natação é em quase que sua totalidade de forma prática e isso faz com que o ensino remoto dessa modalidade sofra com as várias fragilidades. É necessário que o professor assuma mais que nunca seu papel de pesquisador e estudioso, pois, diante desse tempo de ensino remoto é importante buscar novas formas de ensino.

A natação enquanto conteúdo oferecido na escola adota além das habilidades motoras um sistema de cultura de valores onde, os alunos conseguem interagir consigo e com os outros de forma respeitosa e ética. Além de adquirir habilidades intelectuais, cognitivas e esportivas os alunos adquirem maior domínio à sua liberdade criativa, pois os professores se utilizam das formas lúdicas para o ensino.

O ensino lúdico são tarefas utilizadas com vários objetos que permitem uma variedade de soluções que sejam corretas. Desta forma, em meio a pandemia o lúdico pode ser utilizado para o ensino da natação enquanto forma de lazer, esporte e também atividade que proporcione saúde física e mental para a criança, utilizando uma variedade de jogos criados pelo professor que irá trabalhar com sua turma. É possível trabalhar de forma remota a natação, pois o professor pode orientar jogos e brincadeiras que trabalhem a respiração, a coordenação dos braços e pernas, o equilíbrio, as habilidades de motricidade fina etc.

Com isso, podemos concluir que o ensino EAD está mais propício em não ter a mesma eficácia de aprendizado quanto o ensino presencial. Mas depende de nós, professores e futuros professores, essa responsabilidade em estar sempre buscando novos meios e maneiras de aprender e transmitir conteúdo de forma tão eficaz ou, porque não até melhor do que o ensino presencial que estamos acostumados.

Espera-se, todavia, que o leitor compreenda essa situação, e busque se aperfeiçoar mais no assunto, lendo, pesquisando e colocando em prática as melhores estratégias de ensino e aprendizagem, vivenciando os aspectos práticos da questão. Somente isso permitirá que o aprendizado seja pleno, abarcando tudo o que realmente é necessário para que se obtenha uma visão mais holística do assunto.


sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A Educação Física no Brasil: na corda bamba da covid-19

 


 (Escrito por Renato Coelho)

Nesta segunda-feira (05/10/20) o chamado Centro de Prevenções para Doenças (CDC) dos EUA divulgou em seu site (https://www.cdc.gov/) uma importante informação sobre os novos mecanismos de transmissão do vírus Sars-Cov-2. Foi confirmado pela comunidade científica internacional que a Covid-19 pode ser transmitida pelo ar em ambientes fechados com ventilação inadequada, desde que a pessoa contaminada pelo vírus esteja respirando profundamente dentro destes locais, como por exemplo, se estiver cantando ou se exercitando. Esse tema já vinha sendo discutido e debatido por médicos e cientistas em todo o mundo, mas somente agora foi confirmada pela comunidade científica internacional.

Essa confirmação demonstra que o novo coronavirus pode ser transmitido na forma de aerossóis, em pequenas partículas que ficam em suspensão no ar por um período de tempo prolongado e em ambientes fechados. Nestes casos a proteção por máscaras não funcionam, já que estes equipamentos de proteção servem de barreira física apenas para gotículas “pesadas” que caem perfazendo trajetórias balísticas  rumo ao chão ou pequenas partículas que contenham o vírus e que são atraídas para baixo pela gravidade, como por exemplo, gotas de saliva expelidas pela boca de uma pessoa contaminada. Os aerossóis que contém o vírus, ao contrário daquelas, são nanopartículas que “flutuam” no ar, que podem atravessar as camadas de proteção das máscaras e assim entrar  no sistema respiratório das pessoas que frequentam estes mesmos ambientes fechados e sem ventilação. Os aerossóis são partículas tão leves e minúsculas que podem levar o vírus a uma distância até mesmo superior a dois (2) metros de distância. Mesmo que a pessoa infectada já tenha saído daquele ambiente fechado, existe ainda a probabilidade de contágio por terceiros que adentrem tais espaços. As partículas virais em suspensão no ar na forma de aerossóis podem ficar por horas seguidas flutuando no ar em recintos fechados e não arejados. Essa nova informação prova que o vírus Sars-Cov-2 apresenta uma transmissão mais alta e perigosa do que se pensava anteriormente. Essas evidências exigem a tomada de maiores cuidados de proteção e na revisão dos protocolos de segurança contra a Covid-19.

Quando em ambientes fechados e sem ventilação adequada o vírus Sars-Cov-2 pode se transformar na forma de aerossóis e contaminar pessoas mesmo que utilizem máscaras e ainda num raio superior a 2m de contatos, significando que no período de pandemia deve-se evitar salas e ambientes fechados sem ventilação, pois os protocolos já conhecidos como a utilização de máscaras e o distanciamento social não são eficazes nestas situações.

Essas novas evidências sobre o comportamento do novo coronavirus colocam o mundo em alerta no que tange a assuntos sobre regimentos e as regras atuais  de proteção e combate à covid-19. No caso de frequência de pessoas em  escolas, universidades e em academias de ginástica, em que podem existir salas ou ambientes fechados e sem ventilação, além da abertura destes locais terem que  respeitar os critérios de flexibilização para funcionamento que levem em consideração a queda no número de contágios e no controle da pandemia na cidade ou país em questão, devem ser revistos também as características arquitetônicas destas instituições,  a fim de se manter a segurança de seus frequentadores em relação ao contágio da covid-19.

Essas novas e preocupantes informações com relação ao comportamento do novo coronavírus, e que vem sendo aos poucos descobertas e reveladas publicamente, colocam todos os professores de educação física dentro de um novo contexto profissional, num novo processo contínuo de reavaliação processual e metodológica, tendo que repensar incessantemente a realização ou a não realização das suas práticas em determinados ambientes e com determinados conteúdos, haja visto que vivemos um momento de flexibilização total de todas as atividades sem, no entanto, um embasamento técnico-científico de segurança para abertura e funcionamento principalmente de escolas e de academias de ginástica, ficando as tomadas de decisões embasadas apenas em sugestões ou especulações de políticos ou de empresários, que em sua maioria, não possuem conhecimento ou compromisso com as questões de saúde pública, colocando os lucros acima das vidas humanas.

Ao final de tudo, todas as decisões importantes acabam caindo nas mãos dos professores de escolas ou de academias, decisões sobre a vida e sobre a morte, em que pese a ausência total de políticas públicas governamentais de mitigação dos contágios da covid-19. Assim sendo, tais decisões que deveriam ser coletivas e pautadas na ciência e na saúde pública, terminam sendo decisões paliativas e que tangem apenas o âmbito do individual. Daí os motivos que explicam o Brasil ocupar de forma vergonhosa as primeiras posições de contágios e de óbitos pela covid-19 em todo o mundo.

 


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Pandemia, Trabalho e Racismo

                             



(Escrito por Renato Coelho)

Atualmente tem-se constado um número gigantesco de contágios e de mortes por covid-19 no Brasil, sendo computados hoje mais de 5 milhões de contágios e cerca 150 mil mortos, números absurdamente altos, mesmo sabendo que estas estatísticas oficiais são todas subnotificadas. O que observamos na verdade é que todas essas mortes se devem essencialmente à falta de assistência médico hospitalar às vítimas do coronavírus. Não somente no Brasil, mas em todo o mundo, seja em países ricos ou pobres, o atendimento médico hospitalar se transformou em “business”, ou seja, em um grande negócio do mercado mundial. 

O sistema capitalista não possui nenhum compromisso com a qualidade ou acesso à saúde pelos trabalhadores em geral. E quando a saúde das pessoas se transforma apenas em mercadoria, o que se vislumbra no presente é a exclusão e o genocídio de trabalhadores pobres em todo o mundo, seja em países ricos como os EUA ou em países pobres, como no caso do Brasil. Mesmo possuindo um sistema público e gratuito de saúde (Sistema Único de Saúde – SUS), que atende uma grande parte da população mais pobre e carente e que não possuem condições de pagar um plano de saúde privado, a pandemia contabiliza milhares de vítimas entre a classe mais pobre. Tal sistema público brasileiro, o SUS, encontra-se atualmente sucateado, com precarização das condições de trabalho e ainda com baixa remuneração dos trabalhadores da saúde. Diante desta triste realidade, não podemos nunca dizer que a covid-19 é uma doença “democrática”, pois ela atinge de forma distinta, as diferentes classes sociais, porém, com impactos, consequências e índices de mortalidade bastante diferenciados. Quando se observa e analisa os números da pandemia no Brasil, vê-se claramente que a pandemia é capaz de desmascarar mazelas e injustiças latentes no seio da sociedade brasileira, como as disparidades e abismos sociais, a violência de gênero e ainda o racismo estrutural.

Em agosto de 2020 o Brasil ultrapassou a marca de 100 mil mortes por covid-19 e com mais de 3 milhões de contágios, ficando atrás somente dos EUA em termos numéricos. Estes não são apenas números, a covid-19 é um agente social, e por trás desta complexa e macabra  matemática dos números na pandemia, existem nuances, significados e sentidos que apenas a matemática não é capaz de explicar sozinha, pois exige um olhar mais acurado e interdisciplinar para uma situação tão caótica em que vive o Brasil neste período atual em que os contágios ainda encontram-se descontrolados e em altíssima aceleração.

Segundo a OMS o índice estimado de letalidade do novo coronavírus no mundo é de 0.6%, ou seja,  para cada grupo de 1.000 contaminadas, 6 pessoas acabam indo a óbito. Este índice é considerado altíssimo, e demonstra que o vírus é altamente mortal. Para se ter uma ideia, o vírus da gripe A (H1N1) na pandemia de 2009 possuía um índice de letalidade igual a 0,01%. O índice de letalidade pode variar de região para região e também pode alterar em distintas fases da pandemia. O número de pessoas contaminadas pelo vírus Sars-Cov-2 no Brasil é muito grande, porém o percentual de letalidade não é igual para todos os grupos de pessoas infectadas. Observou-se que o percentual de mortes entre pessoas negras internadas com a covid-19  é maior do que em brancos também contaminados. Constatou-se também que a letalidade entre pacientes de hospitais públicos no Brasil que tratam da covid-19 é bem maior do que em hospitais privados.  A explicação para essas gritantes diferenças não se dão através da genética destes pacientes, mas sim através da origem e da dinâmica de suas classes sociais.  

Pesquisas recentes divulgadas pelo NOIS (Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde, 2020) da PUC do Rio de Janeiro, constataram que mais da metade dos negros internados por Covid-19 em hospitais no Brasil morreram. Segundo estes estudos, foram analisados 29.933 casos de covid-19, deste total 8.963 eram negros e 54,8% deles morreram. Na mesma pesquisa dos 9.998 brancos internados 37,9% morreram com diagnóstico de covid-19. Analisando os números da pesquisa, pessoas negras entre 30 e 39 anos, tem 2,5 vezes mais chances de morrerem ao serem internadas por Covid-19 do que pessoas brancas da mesma idade. A explicação da origem destas disparidades numéricas se dá através do chamado racismo estrutural existente no Brasil que promove as diferenças sociais entre pessoas brancas e negras no Brasil. Pesquisas realizadas nos EUA também apontam um índice maior de letalidade pela covid-19 entre negros naquele país.

O racismo estrutural existente no Brasil é o responsável pelos tristes e nefastos números da pesquisa acima. Por mais de 500 anos os negros no Brasil sofreram e ainda sofrem discriminação e exclusão aos meios de acesso ao trabalho, saúde, lazer, estudo e moradia. A herança escravocrata, as imensas desigualdades sociais e a legitimação do racismo e da miséria pelo sistema capitalista são os principais promotores da alta de letalidade por covid-19 entre os negros brasileiros. Obviamente que as pessoas negras no Brasil que possuem menos acesso às políticas públicas de acesso à saúde de qualidade, à moradia digna, ao saneamento básico, e que possuem menores salários e renda do que os brancos,  que tem maiores dificuldades de acesso à escola e ao ensino superior, que são também excluídas do lazer e de uma alimentação completa e de qualidade em comparação com os brancos, consequentemente terão maiores comorbidades como pressão alta, diabetes, sobrepeso e várias outras doenças que podem agravar o estado de saúde ao contraírem o coronavírus, aumentando assim o chamado índice de letalidade da covid-19.

Pretos e pardos no Brasil possuem o maior índice de letalidade da covid-19 em internações, e também segundo o IBGE, formam a maioria dos trabalhos de menor remuneração, o que evidencia mais uma vez a questão do racismo estrutural no Brasil e a sua relação com a pandemia, já que as pessoas mais expostas são as que possuem maior facilidade de adquirir a doença. Enquanto uma minoria de classe mais alta faz o chamado trabalho remoto de suas casas, a maioria formada pelos mais pobres são obrigados a trabalharem no front da pandemia, usando diariamente o transporte coletivo, trabalhando nas ruas, supermercados, nas indústrias e no comércio em geral, possuindo as funções ou cargos de entregadores de app, vigias, motoristas, funcionários de limpeza, balconistas, vendedores, garis, vendedores ambulantes e etc.

A pandemia escancara as injustiças sociais no Brasil, colocando em evidência o racismo estrutural brasileiro e as suas consequências. No Brasil, um dos países mais racistas do mundo, o vírus Sars-Cov-2 não mata de forma igual e democrática, o vírus carrega a marca das injustiças e misérias sociais como o racismo, e acaba matando mais os trabalhadores pobres e também os trabalhadores pretos.

 

                                                                          

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Escolas em Tempos de Pandemia: o EaD e a precarização do trabalho docente

                     


(Escrito por Renato Coelho)

A fim de compreendermos o atual processo de intensificação do trabalho docente e o aumento acelerado da precarização do trabalho nas escolas (públicas e privadas) em Goiás durante a pandemia, faz-se antes necessário entender o contexto e a dinâmica da inclusão do Ensino à Distância nas escolas e também destacar a real situação dos professores diante das limitações e complexidades de um novo modelo de ensino mediado por tecnologias virtuais, cuja implantação fora necessária no contexto de pandemia, porém, imposta de forma unilateral, burocrática e sem consulta ou diálogo com alunos, professores e as famílias envolvidas no processo.

No dia 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o estágio de contaminação pelo novo coronavírus à pandemia. A chamada pandemia de covid-19, segundo especialistas da área da saúde, foi deflagrada de forma tardia pela OMS por questões geopolíticas e por pressão de interesses econômicos, tal atraso provocou consequências catastróficas e irreparáveis no mundo todo, haja visto a rapidez de propagação e letalidade do vírus Sars-Cov-2. Em menos de três meses o vírus foi capaz de dar a volta ao mundo e atingir a todos os países do planeta. A intensa movimentação de pessoas e de mercadorias em um mundo globalizado ajudaram a acelerar o processo de propagação, potencializado ainda mais por posturas negacionistas de governantes e gestores de vários países. A proliferação de uma doença pulmonar causada por um vírus desconhecido tem atingido e impactado sobremaneira e de forma mais violenta países e regiões pobres, onde a falta de assistência médica e a miséria  se tornam obstáculos e barreiras para o enfrentamento eficaz contra a pandemia.

Em Goiás, o governo estadual, através do Decreto n. 9633 de 13 de março de 2020 determinou a situação de emergência em Saúde Pública do Estado de Goiás em razão da pandemia do novo coronavirus, e entre as várias medidas contidas no decreto estadual havia a obrigatoriedade de fechamento de todo o setor produtivo e também a paralisação de todas as instituições educacionais na forma presencial a partir do dia 18 de março de 2020, ou seja, creches, escolas e universidades, públicas ou privadas, deveriam suspender todas as atividades presenciais na data prevista. Em seguida, todos os municípios do estado também emitiram decretos similares regulamentando as ações de enfrentamento à pandemia no âmbito local, paralisando as atividades educacionais presencias de forma em geral. E no dia 15 de março o Supremo Tribunal Federal, através de sessão em vídeo conferência, delega aos governos estaduais e governos municipais o poder e a autonomia para criação de medidas de controle sobre as regras de isolamento social, cabendo ao governo federal a coordenação nacional sobre o combate ao novo coronavirus e o repasse de verbas.

Ainda no dia 15 de março a Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO) publica a nota técnica n.1-2020, que recomendava também o fechamento de todas as instituições educacionais por 15 dias, em virtude da pandemia do novo coronavírus. Já o Conselho Estadual de Educação (CEE-GO) através do seu parecer 02-2020 autoriza o regime especial de aulas remotas (EaD) em substituição às aulas presenciais em todo o sistema educativo do Estado de Goiás. A partir de então, o sistema de aulas virtuais e à distância surge como modelo emergencial e necessário para continuidade das atividades pedagógicas de escolas e universidades em todo o Estado de Goiás.

Todos os professores, alunos e pais de alunos tiveram que se adaptarem ao novo formato de aulas remotas que passou a ser implementado de forma provisória, emergencial e aligeirada pelas Secretaria Estadual de Educação (SEE-GO) e também pelas secretarias municipais de educação localizadas em todas as cidades de Goiás. Além de aligeirada e improvisada, a organização e decisões sobre a mediação de aulas por tecnologias virtuais foi realizada na maioria das vezes por escolas públicas sem a participação dos professores ou pais de alunos.  Grande parte dos professores não dispunham na época de tecnologias adequadas para a realização das aulas e também muitos não possuíam se quer qualquer intimidade com as chamadas tecnologias digitais de ensino. Não foram ofertados pelas secretarias de educação municipais ou pelo governo estadual qualquer forma de subsídios para a aquisição de computadores e instalação de internet de qualidade nos lares dos docentes, tão pouco foi oferecido capacitação ou formação continuada adequada e em tempo hábil na área de informática para a classe docente. Se houve imensa dificuldade de adaptação dos professores ao chamado modelo de aulas remotas, imagina então para a maioria dos alunos pobres de escolas públicas localizadas nas periferias das cidades goianas. Os relatos e testemunhos são de professores sobrecarregados e exaustos de atividades on-line, alunos abandonando as aulas e muitas reclamações dos pais que afirmam não terem tempo ou disponibilidade de auxiliar os filhos nas atividades escolares.

Os inúmeros relatos em jornais e em redes sociais são de professores ministrando aulas via grupos de whastsapp, onde os alunos acessam os conteúdos das aulas através dos celulares de seus  pais, haja visto que a maioria são oriundos de famílias pobres e moradores das periferias das cidades em Goiás, não possuindo computadores ou internet instalada em seus lares, restando apenas os celulares dos pais que passaram a ser compartilhados com os vários filhos nas atividades escolares remotas, mas somente quando havia disponibilidade financeira para compra de créditos para utilização dos celulares.

Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2018 - IBGE) o país tem um contingente muito grande de excluídos digitais, onde cerca de 46,96 milhões, ou seja, 25% da população não tem acesso à internet , e a cada cinco lares no Brasil, um (01) ainda não possui internet. Nas áreas rurais ou em regiões onde a renda da população é mais baixa, as diferenças aumentam ainda mais. Segundo essa mesma pesquisa do IBGE, apenas cerca de 78,3% da população possui celular com acesso a internet, sendo que 5,1% dos lares brasileiros não possuem telefone fixo ou móvel. E é exatamente essa a realidade familiar de grande parte dos alunos das escolas públicas em Goiás. A pandemia vem novamente para desmascarar a triste realidade de exclusão e de pobreza em que vive grande parte da população brasileira, e além disso, o EaD que passa a ser implementado dentro da pandemia em Goiás vem provocando também o aumento das desigualdades entre aqueles que possuem acesso à internet de qualidade e os que não possuem acesso. Desta forma ocorre uma desigualdade de oportunidade nos processos de ensino-aprendizagem e ainda uma falta de equidade no acesso a educação que deveria ser igualitária e ainda um direito de todos.


Tabela - Pnad 2018 (IBGE)


A exclusão digital passou a ser apenas um dos empecilhos e problemas enfrentados por alunos e professores durante este período de pandemia em Goiás. Além da luta por acesso à uma internet de qualidade para a realização do trabalho e de todas as demais atividades educacionais, tem ainda o enfrentamento diário contra o vírus Sars-Cov-2, numa frenética e contínua tentativa de querer se manter vivo. Em um contexto assustador de pandemia, com cerca de mil mortes diárias provocadas pela falta de assistência médica, onde alunos e professores presenciam quase que cotidianamente a perda de renda por questões do desemprego familiar, abalos emocionais causados por mortes de parentes ou amigos próximos, tudo isso ao final acaba gerando um grande estresse e fadiga em todos, e exatamente num momento crítico da pandemia onde o vírus continua descontrolado e se propagando de forma cada vez mais rápida e intensa.

Nas escolas públicas em Goiás, com os baixos salários, a massificação de alunos por turma, as cargas horárias excessivas, o não pagamento do piso salarial, a violência dentro das escolas e a total falta de valorização docente, já eram componentes que antes mesmo da pandemia serviam como potencializadores da precarização do trabalho do professor. Entretanto, neste novo contexto de pandemia, caracterizado pelo trabalho remoto, a precarização e intensificação do trabalho aumentaram consideravelmente, e tem levado vários professores de escolas à exaustão e ao adoecimento por doenças psicossomáticas. O trabalho remoto da forma em que está colocado e em tempos de pandemia não pode ser considerado um privilégio diante daqueles que não tem outra opção, a não ser realizar o trabalho presencial ou essencial. O que se observa na prática cotidiana dos professores que ministram aulas em EaD durante o período de pandemia é apenas uma imposição burocrática e legalista de gestores de escolas e das secretarias de educação para o simples cumprimento de conteúdos e cargas horárias das disciplinas escolares, sem respeitar o tempo e o processo de ensino-aprendizagem num contexto complexo e trágico de uma pandemia. O que se observa atualmente é uma cobrança sem limites em cima dos professores e também dos alunos para transmissão e efetivação de conteúdos tradicionais, que na maioria das vezes não conseguem dialogar ou contextualizar o aluno aos dilemas, dficuldades e desafios do tempo presente, ou seja, de um ensino em tempos de pandemia. É como ensinar física atualmente sem falar de crescimento exponencial numa pandemia; falar de matemática sem relacionar os números aos pontos de inflexão da curva de contágios; comentar biologia sem falar de morcegos e vírus; discutir sociologia sem interpretar as relações entre destruição da natureza, capitalismo e pandemia; ensinar educação física sem correlacionar o cancelamento dos jogos olímpicos e a pandemia ou analisar futebol sem citar os estádios sem as torcidas. Não faz sentido ensinar conteúdos tradicionais nas escolas sem abranger o momento histórico marcado pela pandemia e as suas consequências globais. Percebe-se assim que o tempo, as metodologias, os conteúdos e os temas das aulas devem ser sim modificados e ressignificados para o momento atual, e que o ensino não pode mais se pautar nos paradigmas daqueles anteriores à pandemia, pois o ensino virtual jamais poderá substituir o ensino presencial, ele é apenas um instrumento pobre, vazio, limitado e emergencial e que não pode ser generalizado ou priorizado, porém, ele se faz necessário a fim de se evitar os contágios e as aglomerações em salas de aulas, daí a importância e urgência em reinterpretar  o ensino em tempos de pandemia. Pois, o mundo jamais será o mesmo a partir de dezembro de 2019, com a descoberta do novo coronavírus, não existirá jamais um "novo normal", e nem tão pouco as escolas ou as aulas serão como antes e nem devem ser. Faz-se então relevante ouvir os professores e os alunos para se construir um novo processo de ensino e aprendizagem dialógico, humanizado e contextualizado, capaz de trazer respostas e soluções a este novo tempo inaugurado pelo vírus Sars-Cov-2, que virou o mundo de ponta cabeça e colocou em xeque a própria ciência moderna, expondo as suas contradições, seus limites e contrastes. Exigir as mesmas coisas, as mesmas cargas horárias, os mesmos conteúdos, a mesma rotina dentro da velha burocracia escolar é subestimar o poder e a letalidade do vírus, e ao mesmo tempo é subestimar também a inteligência, a criatividade e os saberes de professores e alunos, que juntos terão que lutar para construírem um modelo novo e diferente de aprendizagem e de escola capaz de superar as limitações e a miséria do ensino virtual, que seja também capaz de anular a precarização do trabalho e as imposições burocráticas de uma velha escola anterior à pandemia que ainda insiste em querer existir e em apenas formar mão de obra barata para um mercado de mão de obra barata que já nem existe mais, pois o vírus só escancarou ainda mais o submundo do desemprego e da informalidade.

 

sábado, 3 de outubro de 2020

De Volta para o Passado: da gripe espanhola à covid-19

 



(Escrito por: Renato Coelho)


De tempos em tempos o mundo é surpreendido por pandemias capazes de provocar  milhões de contágios e de mortes em todos os confins do planeta. Porém, o que temos observado ao longo da história é que a frequência no surgimento de pandemias tem sido cada vez menores, ou seja, em intervalos mais curtos de tempo surgem novas pandemias, e não somente isso, os vírus que originam as pandemias são cada vez mais agressivos, contagiosos e também mais letais. Os vírus são elementos essenciais para a manutenção da vida na Terra e as pandemias são na sua maioria fenômenos da própria natureza e que representam mecanismos de preservação das espécies. Entretanto, estes fenômenos da natureza podem também ser antecipados e potencializados pela ação humana intencional e destrutiva sobre o planeta.

Em 1918, houve a pandemia da chamada gripe espanhola, cujo gatilho inicial da explosão de casos foi provocado pelo grande movimento de soldados e de tropas durante a I Guerra Mundial. Já a atual pandemia do novo coronavirus tem como principal agente catalisador a grande mobilidade humana em aeroportos e rodovias de todo o mundo neste período denominado de globalização. Somam-se ainda para esse processo de crescimento viral, a grande destruição da natureza, já que desmatamentos, extinção de espécies e a captura de animais selvagens expõe a humanidade a uma infinitude de novos e desconhecidos  vírus.

O contexto do mundo em 1918 era totalmente diferente do atual, as relações político-econômicas eram muito distintas destas em que vivemos neste início do século XXI. Naquela época se expandia o modelo fordista de produção nas fábricas, dentro de um processo linear, repetitivo, especializado de produção capitalista e ainda caracterizado pela expansão do consumo e de novos mercados. A ciência também se desenvolveu muitíssimo neste complexo período de guerras entre as nações durante as primeiras décadas do século XX. O conhecimento científico alcançado e todo o  desenvolvimento tecnológico adquirido nestes últimos cem anos permitiram grandes conquistas e feitos para a humanidade em várias áreas como na medicina, física, química e engenharias. A ciência hoje atingiu níveis de complexidade e de especializações inimagináveis para as mais otimistas mentes das primeiras décadas do século passado. Entretanto, mesmo após passado um século na história, existem  muitas semelhanças entre a pandemia da gripe espanhola ocorrida em 1918 e a pandemia atual do novo coronavirus, mesmo considerando os cenários e os contextos tão distintos entre estes dois momentos importantes da história recente. Cem anos separam essas duas pandemias e muitas transformações e mudanças ocorreram na história, na economia, na sociedade e na cultura humana, porém, vários acontecimentos coincidentes e fatos irônicos ainda insistem em perdurar ou se  repetirem na história destas duas pandemias separadas pelo espaço de tempo de mais de um século. O extraordinário desenvolvimento da ciência atual não foi suficiente e nem capaz de derrubar crenças ou de abalar valores, preconceitos e paradigmas que remontam das primeiras décadas do século passado, mas que se vislumbram também no  atual momento da pandemia da covid-19. Isso demonstra na verdade que todos os conhecimentos e saberes produzidos pela complexa, moderna e fascinante ciência deste século XX,  não esteja tão facilmente acessível à maior parte da população mundial quanto parece, exceto na forma de mercadorias tecnológicas, colaborando assim para a alienação de indivíduos e que por sua vez favorece a uma maior manipulação, controle e opressão por parte dos Estados nacionais.

Existem várias teorias sobre o surgimento da gripe espanhola, fatos históricos importantes apontam que o vírus tenha surgido pela primeira vez nos EUA em 1918, no Fort Riley, que era uma instalação militar no estado do Kansas e que, logo após  a deflagração da I Guerra Mundial e o contínuo deslocamento das tropas americanas  e de soldados pela Europa, provocaram a partir daí vários surtos de casos em diferentes partes do mundo, convergindo para o surgimento da pandemia de 1918 (SILVA, 2000).

O nome de gripe “espanhola” surge porque a Espanha por não participar da I Guerra Mundial, tinha total liberdade por parte da imprensa para a divulgação sobre os relatos e  acontecimentos sobre a I  Guerra Mundial, incluindo as estatísticas e mortes na pandemia pelo mundo, daí o nome de “gripe espanhola” , pois a pandemia passou a ser conhecida em todo o mundo graças ao trabalho de divulgação realizado pela imprensa espanhola. Na maioria dos países que estavam envolvidos na guerra, era proibido a publicação sobre assuntos ligados à gripe espanhola, numa tentativa clara de esconder da população os números de infectados e de mortos naquela pandemia. Os próprios governos proibiam ou mesmo manipulavam os dados sobre a pandemia da gripe espanhola em seus países, a fim de não permitir que a propagação da doença afetasse direta ou indiretamente  a popularidade destes governantes ou os rumos da guerra.

Naquele período não se sabia qual era o agente que provocava a gripe espanhola, não havia se quer uma visualização dos vírus, pois o microscópio eletrônico foi inventado somente duas décadas depois, em 1940. E o verdadeiro vírus causador da gripe espanhola só foi descoberto recentemente, e hoje é conhecido como H1N1 o vírus que devastou o mundo a partir de 1918. Mas a medicina daquele início de século XX era ainda pouco desenvolvida para a compreensão da dinâmica de uma pandemia. Os médicos não sabiam ao certo os mecanismos exatos de transmissão da gripe espanhola e nem mesmo dominavam medicamentos eficientes para tratamento dos doentes, ainda não havia sido descoberto os antibióticos. E o que era pior, a maioria da população mundial não tinha acesso à saúde, medicamentos ou ao atendimento médico hospitalar de qualidade. Bilhões de trabalhadores em todo o mundo vendiam as suas forças, tempo, energias e toda a saúde para a produção de capital, e acabavam sendo tratados  apenas como objetos e mão de obra barata, que poderia ser descartável e substituída a qualquer momento que se quisesse. Naquele período, assim como hoje na pandemia da covid-19, a maior parte das mortes se deve não às formas agressivas e desconhecidas de agir do vírus Sars-Cov-2, mas sim à total desassistência médico-hospitalar dos trabalhadores no mundo capitalista, ficando sempre o trabalhador entregue à própria sorte sem assistência de saúde de qualidade, sem respiradores e sem UTI´s, seja um trabalhador do norte da Itália, da França, dos EUA ou um trabalhador da cidade de Manaus no Brasil. O vírus Sars-Cov-2 foi identificado e todo o seu código genético decifrado em apenas alguns meses após a descoberta do primeiro surto em Wuhan na China. Vacinas estão sendo fabricadas e testadas em tempo recorde, porém, a velocidade de propagação do vírus Sars-Cov-2, que é a mesma velocidade de propagação de mercadorias e de pessoas na sociedade capitalista, tem ceifado milhões de vidas também em tempo recorde, numa sociedade onde tempo é dinheiro, e onde a vida humana não vale mais do que o lucro do capital. Quanto menos valor tem a vida humana, mais fácil é para o vírus abreviar e aniquilar essas vidas.

Provavelmente o grande fluxo de soldados que retornaram para os seus países de origem, após o final da I Guerra Mundial, tenham de fato potencializado as transmissões no mundo e assim dado início à pandemia da gripe espanhola de 1918. Atualmente se sabe também que os principais locais propagadores do novo coronavirus foram inicialmente os aeroportos de todo o mundo e em seguida as rodovias dos países. O vírus se espalhou pelo mundo primeiramente viajando através dos fluxos de aviões pelo mundo e em seguida o vírus passou a viajar pelas estradas e rodovias mais movimentadas dos países capitalistas, e em virtude disso, primeiramente foram atingidas pela pandemia primeiramente os grandes centros urbanos e capitais com aeroportos de grande movimentação, e em seguida as cidades e regiões periféricas do interior através de suas malhas viárias.

A gripe espanhola também recebeu vários nomes diferentes, dependendo do país que era atingido pela pandemia. Na Espanha ela era chamada de “gripe da Rússia”. Em alguns países europeus era chamada de “gripe chinesa”. No Brasil foi denominada de “gripe espanhola”. Hoje na pandemia do novo coronavirus, houveram tentativas de ideologização ao tentar vincular o vírus à China, denominando-o pejorativamente e de forma preconceituosa de “vírus Chinês”, numa clara tentativa política em querer desvincular o vírus e a pandemia do seu verdadeiro causador: o sistema de produção capitalista.

Segundo estudos atuais a gripe espanhola matou entre 50 a 100 milhões de pessoas e cerca de 600 milhões de pessoas foram infectadas em todo o mundo. A pandemia da gripe espanhola que teve início em 1918, perdurou por cerca de três (3) anos, finalizando a propagação e os contágios somente em 1921, mas acabou se transformando numa endemia, já que o vírus H1N1 existe ainda hoje.

No Brasil os números de mortes pela gripe espanhola foram subnotificados, e os números oficiais da época apontam um total de 35 mil mortes, mas estudos apontam que o número total tenha sido muito superior ao divulgado pelo governo. No país a gripe espanhola foi denominada por muitas autoridades políticas e por gestores como sendo apenas uma "gripezinha". Na época existiam várias recomendações para o tratamento que iam desde a famosa quinina, remédio extraído do caule de uma árvore, e que ainda hoje  é o principal elemento ativo do medicamento farmacêutico denominado Cloroquina, recomendado para o tratamento de pacientes em estado grave da covid-19, mas que não possui nenhuma evidência científica verdadeiramente comprovada, também foi muito recomendado o uso de cachaça com mel e limão (aqui se dá o surgimento no Brasil da mais famosa bebida brasileira, a “caipirinha”). Porém, através de experiências práticas e mesmo não tendo conhecimento sobre a ação dos vírus, se sabia na época da eficácia do distanciamento e do isolamento social para o controle e mitigação dos contágios da doença, assim como também da utilização de máscaras em locais públicos.

Assim vemos que a ação da pandemia de gripe espanhola no mundo foi devastadora ao provocar um número exagerado de mortos em todo o mundo (estima-se um total de 100 milhões de mortos nas três ondas da pandemia de gripe espanhola entre 1918 e 1921), e também a atual pandemia da covid-19 também tem contabilizado números assustadores de mortos e de contágios. Em outubro de 2020 já foram registrados mais de 1 milhão de mortos em apenas 6 meses desde o início dos contágios na China e cerca de 35 milhões de contaminados em todo o planeta segundo dados divulgados pela Universidade de Jonhs Hopkins. Em que pese a utilização político-ideológica da pandemia em ambos os momentos analisados, também a postura negacionista em relação à ciência, em questões ligadas à realidade das transmissões e dos mecanismos virais na gripe espanhola e na covid-19, fatores esses que contribuíram e que contribuem  sobremaneira para o aumento do número de óbitos e também para a prorrogação no tempo de não controle da pandemia, ou seja, para a manutenção do descontrole da pandemia, como assistimos atualmente na maioria dos países do mundo, inclusive no Brasil.

Destacamos ainda que passados cerca de 100 anos entre ambas epidemias analisadas, muita coisa ainda não mudou. As posturas negacionistas, as limitações da ciência, a falta de assistência social aos trabalhadores em tempos de pandemia, a falta de hospitais e de atendimento à saúde dos trabalhadores, demonstram que numa sociedade de classes baseada no modelo de produção capitalista, a vida humana não possui valor ou importância a não ser para produção do próprio capital. Assistimos o pleno funcionamento das atividades econômicas em pleno crescimento exponencial de contágios pelo vírus Sars-Cov-2, pois ao trabalhador pobre não lhe é dado  nenhuma assistência social de modo a garanti-lhe o isolamento social pleno e eficaz para evitar a sua contaminação. O que se percebe é prática de políticas escancaradas de exposição do trabalhador ao vírus nos locais de trabalho e nos transportes e locais públicos, cujo resultado final é a prática de ações de cunho genocidas contra a maioria de trabalhadores pobres e precarizados em todos os países do mundo capitalista.


Bibliografia

ALVES, G. W. Uma comparação entre a pandemia de Gripe Espanhola e a Pandemia de Coronavirus. UFRGS. Porto Alegre, 2020. Visualizado em 02/10/2020 em: <www.ufrgs.br>

SILVA, D. N. Gripe Espanhola. História do Mundo. 2002. Visualizado em 02/10/2010 em: <www.historiadomundo.com.br>