quarta-feira, 24 de junho de 2015

Relato da Reunião em 23-06-2015


Por que a criança brinca? Essa é a pergunta central que Vigotski faz ao leitor em seu texto "A brincadeira e o seu papel no desenvolvimento psíquico da criança", explicando que a brincadeira infantil surge a partir dos desejos irrealizáveis dentro do mundo adulto, e que são satisfeitos através de uma ação imaginária e ilusória, a brincadeira. 
Quando a criança pré-escolar deseja andar de cavalo, mas sabe da impossibilidade de realizar este seu desejo, então, ela começa a brincar com a vassoura, por exemplo, e este objeto, de forma imaginária, se torna um cavalo.
Para Vigotski, a criança na fase da primeira infância, não consegue diferenciar o campo visual do campo semântico. Já, a partir dos 03 anos (idade pré-escolar) a criança passa então a distinguir o campo visual e o semântico, ou seja, diferencia aquilo que vê (objeto) de seu significado (sentido).

"Isso torna-se possível em razão da divergência, que surge na idade pré-escolar, entre o campo visual e o semântico." (p. 26).

Para Vigotski o brincar infantil não é um lugar separado do real, ao contrário, para este autor a brincadeira e a própria situação real coincidem, sendo que as próprias regras do brincar advêm das regras do comportamento real.

"As ações da brincadeira que combinam com a situação são somente aquelas que combinam com as regras. " (p.27).

Para Vigotski qualquer situação imaginária vivenciada pela criança possui em si regras de comportamento, e também qualquer brincadeira com regras contem também situações do imaginário. Logo, para o autor a criança é livre, mas esta liberdade da criança é apenas  ilusória.
Vigotski ressalta ainda que durante a chamada primeira infância, a força impulsionadora para a criança está nos objetos, e estes acabam determinando o seu próprio comportamento. Já na idade pré-escolar, isso de fato não acontece mais, pois os objetos em si acabam perdendo o seu poder impulsionador de outrora, já que a criança começa a agir de forma diferente em relação a tudo o que vê.

"Devido ao fato de, por exemplo, um pedaço de madeira começar a ter papel de boneca, um cabo de vassoura tornar-se um cavalo, a ideia separar-se do objeto, a ação, em conformidade com as regras, começa a determinar-se pelas ideias e não pelo próprio objeto." (p.30).

Segundo Vigotski, nessa guinada na relação entre ideia/objeto, a brincadeira cumpre um papel fundamental e proporciona a efetiva transição para isso. O objeto que antes possuía predominância, passa então, a partir deste chamado momento crítico,  a ser um elemento subordinado ao sentido, e este por sua vez passa a ter predominância sobre o próprio objeto. Numa relação matemática, teríamos em um primeiro momento a fração OBJETO/SENTIDO representando a supremacia do campo visual sobre o semântico na primeira infância (0-3 anos). A fração se inverte quando surge o momento crítico, ou seja, quando o campo semântico (significados) supera o campo visual, criando uma nova relação SENTIDO/OBJETO, onde a partir de agora a criança passa a abstrair o próprio objeto, dando-lhe novos sentidos com base no imaginário.

"Dessa forma, na brincadeira, a criança cria a seguinte estrutura sentido/objeto, em que o aspecto semântico, o significado da palavra, o significado do objeto, e dominante e determina seu comportamento." (p.31).

objeto predominante                       objeto subordinado

OBJETO                   momento crítico              SENTIDO
SENTIDO                                                          OBJETO

   

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